Uma das minhas melhores surpresas quanto ao ano de 2013, foi um filme norte-americano, dirigido e produzido por Spike Jonze, chamado Her, ou no estilizado título brasileiro, her. Citando livremente um amigo, "esse filme não se trata do melhor filme do ano, no entanto, pode-se dizer, com toda a certeza, que é um filme produzido com um rara sensibilidade, e de uma profundidade comovente. Ou, em resumo, é um ótimo filme".
Passando ao que mais interessa, digo, ao seu enredo, Spike Jonze nos apresenta Theodore, um escritor solitário e recém saído de uma custosa separação, que adquire, quase aleatoriamente, um sistema operacional para seu computador chamado Samantha. No entanto, o que é inesperado, é que esse sistema operacional interage com ele de uma forma absolutamente humana, sendo que, no decorrer da trama, ambos acabam se apaixonando um pelo outro.
Nesse ponto, cabe se elogiar toda a estética do filme, que nós trás em um mundo futurista, uma ótica absolutamente retro, o que permite ao telespectador uma identificação temporal e, portanto, uma sensação de realismo, muito grande, ao contrário do que acontece com muitos outros filmes que tangenciam a ficção científica. Fora que, durante todo o filme, esse mesmo visual mais antiquado, embora de linhas sofisticadas, dá a trama um toque de melancolia constante, ajudada pela escolha das cores do filme, que são sempre em cores brandas e apagadas.
Outro ponto que achei particularmente interessante no filme, foi a ideia do romance entre uma pessoa e um ente sem corpo, digo, Samantha, é apenas uma voz(embora bastante sedutora), permanecendo assim durante toda a trama. Em filmes de temáticas semelhantes, ou seja, romances entre seres humanos e máquinas(o homem bicentenário é um bom exemplo), é sempre comum podermos visualizar o contraste entre carne e metal, o que cria desde o início ao telespectador a impressão de impossibilidade do romance. No entanto, ao se descorporificar Samantha, se diminui o choque que poderia haver com uma "visualização robótica" da mesma, já que sempre poderíamos pensar, emboras conscientemente sabendo da verdade, que haveria um ser humano por trás dela.
Quanto à Samantha, em específico, acho interessante a abordagem que muitos outros textos de blogs e resenhas tiveram quanto a mesma. Todos eles, ou quase todos eles a trataram como apenas um instrumento, dizendo que na verdade, a relação que Theodore traça com a mesma, é algo absolutamente circular, ou seja, ainda em choque com o fim do seu antigo relacionamento, ele traça uma relação consigo mesmo. Nessa ótica, a romance desenvolvido por todo o filme, teria o mesmo pressuposto que a relação de uma criança e seu brinquedo favorito, já que embora ela possa conversar com ele, dar um nome para ele, personificá-lo completamente, ele sempre remanescerá como um objeto, um objeto cuja alma é a carência de seu dono.
Entretanto, sobre o assunto, acho interessante o trabalho de um professor austríaco, chamado Hans Moravec. Ele é especializado em robótica, tanto que trabalha desde em 1980 nesse mesmo setor da Universidade Carnegie Mellon (CMU), e sobre o tema já escreveu inúmeras obras. Em muitas ele se faz a seguinte indagação: O que nos faz humanos? Se um homem perde um membro e o substitui por uma prótese mecânica, ele será menos humano? E se ele substituísse todo o seu corpo por máquinas, mesmos seus neurônios, seria ainda humano? Nesse ponto, caberia se perguntar se uma máquina, concebida como metal, plásticos e fios desde a sua criação, mas que se comportasse tal como um ser humano, seria menos humana do que um ser humano, nascido carne e depois todo talhado em metal? Dependendo da resposta a essa pergunta, poderemos saber se Samantha é ou não "humana", embora seja claro, desde o início, que chamar de mero instrumento uma máquina que pensa por si mesma, e possui sentimentos próprios, muita pretensão antropológica...
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