quarta-feira, 30 de abril de 2014

DICA CINEMATOGRÁFICA: The Road - O cinza, o frio e o fim

Nesse final de semana, tive a oportunidade de ver um angustiante, mas extremamente interessante filme, chamado The Road, produzido em 2009, e de direção de Jonh Hillcoa. 

A película retrata um futuro pós-apocalítico, onde, por alguma razão não explicada, os céus se tingiram de cinza e o brilho e calor sol se tornaram muito fracos, quase inexistentes. Esse fato, passado anos antes do início da história, levou, simplesmente, ao fim da civilização, já que significou o fim de qualquer vida vegetal e, por consequência animal, ou seja, o fim de toda nossa base alimentar. 

Os seres humanos que aparecem nesse filme, se tratam apenas de meros reflexos, fantasmas da máquina, se apresentando ou como nômades, revirando o lixo de tempos passados para sobreviver, ou simplesmente como feras, se alimentando de sua própria gente, ou seja, se canibalizando. E é nesse mundo de desespero e queda, que um homem tenta sobreviver e levar seu filho através da longa e fria estrada.


Desde o início do filme, fica evidente que nenhum dos personagens possui nenhuma perspectiva de melhora quanto à situação. Sendo que, ao contrário, todos estão certos sobre a inevitável morte ao horizonte. Essa mesma convicção é manifestada pelo próprio ambiente, que é sempre mostrado em cores cinzas e sombrias. Cores, que além de denotarem a degeneração do meio, também nos permitem a constante ideia de sensação térmica do mesmo. Sem o sol, a fome não é a unica sombra que paira sobre todo o filme, o frio, a hipotermia, para ser mais específico, também é bastante presente.
É curioso notar, como as cores são importantes no filme. Além de manifestarem, conforme já referido, o frio e a decadência do ambiente, elas também servem para mostrar o quão diferente do da realidade mostrada era aquele "outro mundo", aquele anterior ao "encobrimento do sol". O que pode ser visto nos momentos em que o pai do garoto sonha com fatos anteriores ao inferno que vive(esses são seus únicos sonhos), as cores das sequência são vivas e fortes, contrastando fortemente com todo o visual cinzento do restante do filme.

Mais do que isso, as cores vivas simbolizam uma das principais chaves do filme. O fogo. É o fogo, claro, em um sentido meramente simbólico, e constantemente trocado entre pai e filho, que vêm nele, o símbolo de sua determinação em continuar vivendo, em sobreviver.
Esse mesmo fogo, também pode ser simbolizado pela própria criança. Que diante de toda a bestialidade e escuridão apresentadas, se mantém até o final da trama, como o único farol de humanidade e calor restante. Como seu próprio pai resumiu em uma das cenas, "o menino era a unica coisa que o mantinha vivo, ele era o seu deus". No entanto, como dito em outra cena, "existe algo de desesperado em levar um deus por uma estrada daquelas".
Em resumo, não posso dizer que o filme tenha sido um dos melhores filmes que já vi, ou sequer que se trata de um dos melhores lançados naquele ano. No entanto, creio que ele merece ser visto, principalmente porque se trata de um ótimo exemplo de manifestação indireta de emoções e sentimentos no cinema, o que o filme faz através de cenários e sequências absolutamente angustiantes e depressivas.

domingo, 27 de abril de 2014

O QUE AINDA ESTÁ POR VIR: X - Men: DAYS OF A FUTURE PAST


Não sei o que dizer exatamente sobre o filme, apenas que, primeiro, é estranho o Wolverine estar grisalho... ele tem o fator de cura, oras... e segundo, que mal posso esperar o dia 22 de maio para poder ver esse bendito filme!


DICA CINEMATOGRÁFICA: Vampire's Kiss - Nicolas Cage, um vampiro muito louco

Qualquer pessoa que tenha alguma vez acessado a internet, com toda a certeza já viu o seguinte meme:
O que poucas pessoas sabem, é que esse meme, tão famoso nos meios cibernéticos, teve origem na cena de um filme de 1988, dirigido por Robert Biernam, e chamado Vampire's Kiss, ou O Beijo do Vampiro no Brasil. O filme conta a historia de Peter Loew, um agente literário bem sucedido, que depois de ser mordido por uma mulher que ele conheceu em uma balada, ou ao menos pensar que foi, o filme não deixa muito claro, começa a apresentar todos os sintomas de uma possível infecção vampírica, ou do maior acesso psicótico que já se teve notícia no Ocidente.
Embora a sinopse possa dar a qualquer um a impressão que o filme se trata de uma bomba sem tamanho, tal noção é absolutamente errônea, porque a película, com toda a sua estranheza e excentricidade, se trata simplesmente de uma das melhores atuações de Nicolas Cage no cinema. Não digo isso de modo vão. Qualquer pessoa que já tenha assistido algum filme do ator, pode testemunhar que o mesmo, assim como Jim Carrey, é um "ator overactor", digo, ele possui um estilo de atuação muito marcado, quase exagerado ao ridículo, embora não ruim. O filme e o ator, portanto, se casam perfeitamente nesse filme, que já é caracterizado por uma personagem a beira da loucura, senão totalmente submerso por ela.

O melhor, é que o filme não é apenas bom por causa da excelente atuação de Nicolas Cage, embora essa seja tão boa que se eternizou até em memes, mas toda a trama, que se trata do drama de um homem que pouco a pouco submerge na absoluta insensatez, é incrivelmente boa. Embora em alguns pontos se tenha a impressão que o filme ora tenta se bandear para a comédia de humor negro, ora para o terror, isso só faz com que toda a trama fique mais instigante e angustiantemente engraçada. Confesso que minhas gargalhadas vendo esse filme puderam ser ouvidas há quilômetros da minha casa, porque ele foi, com toda a certeza, um dos filmes mais engraçados que já vi em toda a minha medíocre existência.

Um detalhe interessante, embora um pouco nojento sobre a película. É que nela, Nicolas Cage come uma barata viva, em uma das sequências mais angustiantes de todo o cinema. Perguntado mais tarde sobre isso, ele disse: "Every muscle in my body didn't want to do it, but I did it anyway". Outro detalhe curioso, é que o morcego que aparece no início do filme, é um animatronic, construído pela mesma pessoa que fez os efeitos especiais de Star Wars, o que explica, em parte, o baixo orçamento mostrado no decorrer de todo o resto do filme, já que devem tê-lo gastado todo na contratação do  dito sujeito. Ainda sobre o orçamento, esse não foi suficiente para o pagamento de coadjuvantes, portanto, todas as pessoas que aparecem nas cenas externas, junto com nosso querido tio Nico(que na época era um ator praticamente desconhecido), não faziam ideia do que diabos estava acontecendo. E acredite, deve ter sido realmente assustador...
Para todos aqueles que querem ter um hora e meia da mais absoluta maluquice, temperada com risadas de fazer seus órgãos se deslocarem de seus lugares, recomendo esse filme. Segue o trailer, só para se ter uma noção do grau de insanidade que se pode esperar:

sábado, 26 de abril de 2014

Sweet Tooth - Do fim da inocência


Sweet Tooth, ou dente doce em uma tradução muito tosca, é uma Hq da vertigo, e tem como autores Jeff Lemire(roteiro e arte) e José Villarrubia (cores). Confesso que tomei conhecimento dela, por um canal do youtube que acompanho(e recomendo extremamente), sendo que, de início, não levei muito a sério a publicação. O nome infantil e a capa do primeiro número(a capa, que tem um trecho acima, mostra o personagem principal comendo um chocolate), me fizeram erroneamente crer que o título teria um enredo banal, bobo. No entanto, não podia estar mais errado. O enredo da trama não só é apenas bem desenvolvido, mas a história é de uma dramaticidade que comoveria até as pedras...

Mas indo ao que realmente interessa, digo, ao enredo, a trama se passa dez anos após o início do "flagelo", uma epidemia que contaminou todos os seres humanos e que levará todos irreversivelmente a uma morte lenta e dolorosa. As únicas pessoas que estão livres do flagelo são as crianças que nasceram depois dele, no entanto, tais crianças não têm um aspecto completamente humano, possuindo sempre diferentes traços de animais. O próprio personagem principal, Gus, possui chifres de cervo. E é por causa dessa particularidade, que tais crianças, em um mundo a beira da morte, são implacavelmente perseguidas e tidas como sinônimo de mau agouro por uns, símbolos dos fins dos tempos por outros e até como cobaias e ratos de laboratório para alguns mais insensíveis.

Confesso que histórias onde crianças padecem de qualquer tipo de sofrimento ou dor, me deixam normalmente pouco a vontade. Embora pessoalmente eu não ature muito crianças, creio que os pequenos catarrentos devem ser protegidos de toda a dor e peso do mundo, até que suas costas sejam fortes o suficiente para segurá-los. No entanto, não é dado tal tempo a nenhuma das crianças dessa revista. O personagem principal, já de início encara a própria morte do pai e a destruição do mundo que sempre conheceu e amou.

E logo depois disso, como se já não fosse suficiente, ele é apresentado a Jepperd, ou Big Man, que aparece de um modo absolutamente violento e chocante. No fundo, ele é um símbolo do mundo que morre, mas ainda que ruge e morde mesmo em agonia. Ele é a porta que leva ao inferno do personagem.
 De resto, posso dizer que adorei o traço usado usado pelo desenhista. Sua simplicidade e seu caráter aparentemente infantil, contrastam muito com o mundo sombrio que é apresentado pelo enredo. Recomendo essa revista a todos os que quiserem ler algo de qualidade, embora faça uma ressalva quanto à necessidade de estômago forte.






DICA CINEMATOGRÁFICA: HER e o conceito de humano

Uma das minhas melhores surpresas quanto ao ano de 2013, foi um filme norte-americano, dirigido e produzido por Spike Jonze, chamado Her, ou no estilizado título brasileiro, her. Citando livremente um amigo, "esse filme não se trata do melhor filme do ano, no entanto, pode-se dizer, com toda a certeza, que é um filme produzido com um rara sensibilidade, e de uma profundidade comovente. Ou, em resumo, é um ótimo filme".

Passando ao que mais interessa, digo, ao seu enredo, Spike Jonze nos apresenta Theodore, um escritor solitário e recém saído de uma custosa separação, que adquire, quase aleatoriamente, um sistema operacional para seu computador chamado Samantha. No entanto, o que é inesperado, é que esse sistema operacional interage com ele de uma forma absolutamente humana, sendo que, no decorrer da trama, ambos acabam se apaixonando um pelo outro.

Nesse ponto, cabe se elogiar toda a estética do filme, que nós trás em um mundo futurista, uma ótica absolutamente retro, o que permite ao telespectador uma identificação temporal e, portanto, uma sensação de realismo, muito grande, ao contrário do que acontece com muitos outros filmes que tangenciam a ficção científica. Fora que, durante todo o filme, esse mesmo visual mais antiquado, embora de linhas sofisticadas, dá a trama um toque de melancolia constante, ajudada pela escolha das cores do filme, que são sempre em cores brandas e apagadas.

Outro ponto que achei particularmente interessante no filme, foi a ideia do romance entre uma pessoa e um ente sem corpo, digo, Samantha, é apenas uma voz(embora bastante sedutora), permanecendo assim durante toda a trama. Em filmes de temáticas semelhantes, ou seja, romances entre seres humanos e máquinas(o homem bicentenário é um bom exemplo), é sempre comum podermos visualizar o contraste entre carne e metal, o que cria desde o início ao telespectador a impressão de impossibilidade do romance. No entanto, ao se descorporificar Samantha, se diminui o choque que poderia haver com uma "visualização robótica" da mesma, já que sempre poderíamos pensar, emboras conscientemente sabendo da verdade, que haveria um ser humano por trás dela.

Quanto à Samantha, em específico, acho interessante a abordagem que muitos outros textos de blogs e resenhas tiveram quanto a mesma. Todos eles, ou quase todos eles a trataram como apenas um instrumento, dizendo que na verdade, a relação que Theodore traça com a mesma, é algo absolutamente circular, ou seja, ainda em choque com o fim do seu antigo relacionamento, ele traça uma relação consigo mesmo. Nessa ótica, a romance desenvolvido por todo o filme, teria o mesmo pressuposto que a relação de uma criança e seu brinquedo favorito, já que embora ela possa conversar com ele, dar um nome para ele, personificá-lo completamente, ele sempre remanescerá como um objeto, um objeto cuja alma é a carência de seu dono. 

Entretanto, sobre o assunto, acho interessante o trabalho de um professor austríaco, chamado Hans Moravec. Ele é especializado em robótica, tanto que trabalha desde em 1980 nesse mesmo setor da  Universidade Carnegie Mellon (CMU), e sobre o tema já escreveu inúmeras obras. Em muitas ele se faz a seguinte indagação: O que nos faz humanos? Se um homem perde um membro e o substitui por uma prótese mecânica, ele será menos humano? E se ele substituísse todo o seu corpo por máquinas, mesmos seus neurônios, seria ainda humano? Nesse ponto, caberia se perguntar se uma máquina, concebida como metal, plásticos e fios desde a sua criação, mas que se comportasse tal como um ser humano, seria menos humana do que um ser humano, nascido carne e depois todo talhado em metal? Dependendo da resposta a essa pergunta, poderemos saber se Samantha é ou não "humana", embora seja claro, desde o início, que chamar de mero instrumento uma máquina que pensa por si mesma, e possui sentimentos próprios, muita pretensão antropológica...


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Os Planetas de Aldebaran - A Pluralidade da vida no Universo


Confesso que, para meu eterno pesar, apenas tive contato com quadrinhos adultos quando entrei para a faculdade. Até antes disso, pensava ingenuamente que toda a produção de quadrinhos se resumia àquelas Hqs de super heróis que via todo o dia, na banca de jornal da esquina.

Como já falei, foi só na universidade, quando já adulto, que tive contato com esse gênero de trabalhos de cunho mais maduro, como as excelentes excelentes obras produzidas por Neil Gaiman (em especial Sandman), Allan More (Watchmen, V for Vedetta), Frank Miller(The Dark Knight) e outros que, mesmo trabalhando muitas vezes com os mesmos personagens e até mesmo os mesmos contextos das Hqs infanto-juvenis, conseguiam desenvolver trabalhos profundos e muito bem elaborados. Nessa mesma época também, comecei a notar como o mercado de quadrinhos é monopolizado pelas editoras norteamericanas, e tive acesso(embora com alguma dificuldade) a excelentes trabalhos de editoras europeias, sendo que um dos que mais me agradou foi a saga Os Mundos de Aldebaran, da editora francesa Daurguard, e desenhado, coincidentemente, por um colega tupiniquim.

Os Mundos de Aldebaran Trecho da capa do Livro II
Como se pode constatar por outras publicações do blog, sou um fã aficcionado pela ficção científica, sendo que o citado trabalho não foge à regra, sendo até, ao menos na minha humilde e descartável opinião, um ótimo trabalho do gênero. Passando realmente ao que interessa, ou seja, ao enredo, esse se inicia no 2184, quando cem anos antes, a primeira missão de colonização do espaço, perdeu total contato com a terra, assim que chegaram ao planeta Aldebaran. Embora com poucos recursos e sem nenhum contato com a terra, os "aldebarianos" conseguem, com algumas limitações, construir uma civilização adaptada ao seu novo mundo. No entanto, tal civilização não é uma utopia, sendo que puluam na história, exemplos de fanatismo religioso e práticas autoritárias. Um bom exemplo, é a regressão de praticamente todos os direitos civis, particularmente os das mulheres, que são absurdamente obrigadas a ter um número mínimo de filhos (mínimo mas assustadoramente alto). Claro, que na história se pode ver movimentos de resistência tanto ao fanatismo religioso quanto às práticas autoritárias, seja de modo organizado(a resistência), seja de forma difusa(interessante mencionar que o autor da revista é um ex-exilado da ditadura militar).


Os Mundos de Aldebaran, Trecho da capa do Livro III
No entanto, o foco principal da história não é a luta política contra o autoritarismo e conservadorismo presente em qualquer agrupamento humano(embora esse permeie toda a trama), mas o contato dos seres humanos com a fauna e flora extraterrena, particularmente o contato com uma estranha e misteriosa criatura chamada Mantrisse, que é o foco de toda a trama.
Mantrisse. Os Mundo de Aldebaran, Trecho da capa do Livro VI

Confesso, que uma das coisas que mais achei legal nos citados quadrinhos, foi a criatividade do autor na criação da fauna e flora extraterrestre. Já que em obras do gênero, é muito comum os autores caírem no erro de considerar que qualquer forma ou tipo de vida fora da terra, terá de seguir e se ater as mesmas limitações terrenas (vide a ficção científica clássica).
Esse é um ótimo exemplo do que falei acima!
Outro exemplo...
Acredito pessoalmente que o universo é muito grande, e as possibilidades de formas e modos de vida nele são inimagináveis. Como o brilhante, e de conhecimento absolutamente obrigatório, Carl Sargan dizia, nossos conhecimentos sobre a vida evoluiria imensamente, mesmo que apenas tivessemos contato uma amostra de vida unicelular extraterrena.

Para quem se interessou pela revista, ou simplesmente gostaria de navegar mais um pouco no universo criado nessa genial Hq, a Dargaud criou uma página exclusiva para isso.


terça-feira, 22 de abril de 2014

DICA CINEMATOGRÁFICA: Where The Sidewalk Ends - Crime e Castigo


Adivinhe quem é a belle feme, o cafajeste e a vítima?
Recentemente foi semana santa e, como todo o bom feriado prolongado, também foi uma ótima oportunidade para atualizar leituras e cinebiografias. Confesso que, embora minha tentativa de emfim conhecer a nouvelle vague tenha mais uma vez soçobrado frente à minha habitual preguiça, pude ver (em uma das raras tréguas que tive na luta contra o ócio absoluto) um ótimo filme noir chamado Where the Sidewalk Ends, ou como foi chamado no Brasil, Passos na Noite. O filme, de direção de  Otto Preminger, começa de modo corriqueiro para o gênero, uma belle feme, seu companheiro reconhecidamente cafajeste(sério, desde a primeira cena era claro que ele não prestava), e uma vítima endinheirada. Não podendo faltar, claro, o crime, qual seja, o assassinato da referida vitima. 

Até esse ponto, o filme seguiu o padrão de todos os filmes do gênero, não havendo nenhuma surpresa. Até a cena na delegacia, onde os detetives discutiam sobre o crime citado, seguia também, sem nenhum problema o velho livrinho de esteriótipos noir, tendo o policial brutal, mas seguidor da lei e da ordem, o policial amigo dele e por isso apagado no filme, e o policial corrupto que tem uma rápida ascensão na carreira. No entanto, é a partir desse ponto que as coisas começam a ficar interessantes... 

Ops!
Logo, o policial brutamontes, em uma ótima atuação de Dana Andrews, vai até o referido personagem cafajeste para tentar interrogá-lo sobre o ocorrido. No entanto, seus heterodoxos métodos de interrogatório levam à morte acidental do interrogado (sério, foi acidental mesmo). Tendo em vista que seu comportamento violento habitual estava prestes a levá-lo ao rebaixamento e talvez até ao afastamento da sua amada corporação, ele habilmente esconde o corpo e as pistas do crime.

Embora inicialmente a ideia tenha dado certo, Dixon logo começa a entrar em um forte estado de depressão e paranoia. Ele que já era bastante truculento até mesmo com os maiores bandidos da cidade, chega às raias da temeridade com os mesmos, ameaçando e até batendo em um "chefão" da máfia dentro do próprio território desse. Uma cena muito interessante, é quando ele e o parceiro, depois de um plantão, dormem por algumas horas na delegacia. No entanto, apenas seu parceiro dorme, porque o próprio Dixon não consegue pregar os olhos, em tal estado de nervosismo em que se encontrava.

No decorrer da história, um inocente acaba sendo dado como culpado pelo crime (convenientemente o pai da belle feme), sendo que o estado emocional do detetive se degrada ainda mais com o fato. É desnecessário mencionar, que o protagonista, Dixon, se envolve com a belle feme, interpretada por Gene Tierney, que o vê como um anjo, ou coisa do gênero, já que de todos os policiais envolvidos no caso, ele é o único certo da inocência de seu pai.



Consegue-se ver algo além de culpa e medo?
Não pretendo mais me estender sobre o enredo do filme, porque realmente gostaria que qualquer leitor incauto que se aventurasse por essa página realmente visse o filme. Mas confesso, que todo o filme me permitiu fazer uma curiosa ponte com uma outra obra artística de tema parecido, embora essa seja literária. Falo de Crime e Castigo, escrito por Dostoiévisk, em 1856. Nele, um jovem estudante mata uma velha sovina e dona de um penhor, porque considerava estar fazendo um bem à humanidade. Entretanto, tal como o detetive, à culpa o corroí pouco a pouco, fazendo com que, em dado momento ele termine por se entregar.

Curiosa a relação nas duas obras citadas, que o sentimento de culpa possui nos referidos personagens, digo, mais do que a relação, a consequência dessa emoção os leva a uma situação onde a própria existência se torna impossível, dada a flagrante quebra de uma norma e necessidade, portanto, de uma punição. Embora no filme tenha ficado claro, que o passado de Dixon o tenha ajudado a adquirir um certo grau de neurose quanto ao cumprimento da lei (tendo em vista que seu pai era um criminoso, ele se tornou policial em um mecanismo compensatório), apenas alguém que passou toda a sua existência sozinho em uma caverna, ou talvez um alien, poderiam negar que a culpa, ou o sentimento de culpa, é algo de presença recorrente em nossas vidas e em nossas ações. Todos buscamos, ao final, a redenção por algo feito ou ao menos imaginado (freud explica). Essas obras, mais do que servirem como um brado de almas atormentadas por seus pecados, nos permitem ver como a culpa atua em nossas vidas e nossas ações. Perceber a existência desse sentimento, e de seu efeito sobre nós, é fundamental o crescimento individual de qualquer um, para que, com alguma sorte, possamos ou finalmente alcançarmos a tão sonhada redenção, ou simplesmente apreendermos a viver sem ela.


O QUE AINDA ESTÁ POR VIR: The Grand Hotel Budapest



Um dos diretores de estilo mais marcante e idiossincrático do cinema contemporâneo. Wes Anderson já produziu obras de valor inestimável (não estou babando ovo do sujeito, bom, estou, mas ele é bom mesmo) como Moonrise Kingdom e The Royal Tenenbaums, sendo que esse ano ele nós mostrará sua mais nova obra, O Grande Hotel Budapeste, com estreia prevista para o dia 26 de junho. Creio que esse será, com certeza, um dos pontos mais altos de 2014. Sem querer fazer tietagem, mas já a fazendo descaradamente, mal posso esperar pela estreia!!!


segunda-feira, 21 de abril de 2014

BABYLON 5 - Eu amo Space Operas!!!! (1)

"Era o amanhecer da terceira era da humanidade, dez anos depois da guerra Terra/Minbari.
O Projeto Babylon era um sonho que tomou forma.
Seu objetivo, evitar outra guerra criando um lugar onde os humanos e aliens pudessem acertar suas diferenças pacificamente.
É um porto de chamada - um lar longe do lar para diplomatas, andarilhos, empresários, e vagabundos.
Humanos e aliens envoltos em dois milhões e quinhentas mil toneladas de metal, sozinhos na noite.
Pode ser um lugar perigoso, mas é nossa melhor esperança de paz.
Esta é a história da última das estações Babylon.
O ano é 2258.
O nome do lugar é Babylon 5."
- Comandante Sinclair, abertura, B5


Antes de tudo, confesso que amo enlouquecidamente a ficção científica, tendo uma particular e vergonhosa queda pelas Space Operas. Nesse ponto, o leitor incauto coçará a cabeça, olhará desinteressadamente para a tela de seu pc e se perguntará: "que merda é essa?"

Tendo isso em vista, poupo-lhes do trabalho de digitar o termo no google, e explico...

Space Opera, ou ópera do espaço, é um sub-gênero da ficção científica que tem como principal característica a ambientação de enredos de aventura romântica (quando digo romântica me refiro ao movimento artístico-literário conhecido como romantismo) ao espaço. 

Tendo em conta essa pequena e enciclopédica, embora necessária explicação(god bless wikipedia), passemos ao assunto de minha pequena sandice textual, Babylon 5. Para quem nunca ouviu falar, esse é o nome de uma série de tv norte americana, que possui 5 temporadas e foi produzida no interregno de 1993 a 1999. Por óbvio, a série era uma space opera(não teci as explicações a toa) da pior espécie (barata), mas com uma ótima ideia, e com um enredo fascinante.

Não pretendo falar muita coisa do enredo, até porque acabaria dando tal quantidade de spoilers, que inviabilizaria qualquer possibilidade de alguém realmente se interessar pela série. No entanto, sem "spoilar", posso dizer que, ao contrário da maior parte das séries e filmes do gênero, Babylon 5 (B5) possui uma história voltada mais para o debate político e histórico, e talvez até um pouco de espionagem, do que para aventuras e coisas do gênero. 

Diga-se de passagem, que quase toda a série se passa na estação espacial que dá nome à obra, uma decisão motivada particularmente por custos econômicos que, no entanto, deu um viés muito interessante a série, já que permitiu que dentro dos episódios houvessem discussões e especulações relativas a um possível serviço diplomático e até a um mercado interplanetário (Capitalistas alienígenas do universo, uni-vos!), o que produz para qualquer fã do gênero uma experiência próxima ao nirvana. Até o fato de praticamente todos os alienígenas mostrados terem aspecto humanoide, outra consequência da falta de orçamento, não conseguiu desmerecer a qualidade da série, sendo que talvez até a tenha ajudado, já que no fundo, as espécies aliens retratadas são espelhadas em nossa própria sociedade, antiquada às raias da demência em alguns países/mundos, e desenvolvida até a irrealidade em outros.

Fora isso, outro aspecto da série que adoro são as frases de efeito. Oh, como sinto falta dos anos 1990 e de suas frases de efeito! (...) Não faltam aos episódios, falas e cenas que possuem um efeito marcante em qualquer audiência. Ficando marcadas eternamente em nossas mentes, como se marcadas a ferro quente. Um bom exemplo é a cena onde o personagem Mr. Morden, uma eminência parda de amigos influentes, pergunta ao assistente de um diplomata, se ele possuiria um desejo, uma vontade a ser conquistada, um preço. Sendo respondido, de maneira épica, da seguinte forma: 
Wave like this.



“I want to live Just long enough to be there when they cut off your head and stick it on a pike as a warning to the next tem generations that some favors come with too high a price. I would look up your lifeless eyes and wave like this. Can you and your associates arrange that for me, Mr. Morden?” (link)



Sério, essa cena foi bem pesada.
Ou até mesmo, uma das cenas mais assustadoras de toda a série, quando um convidado a estação espacial, um religioso, faz uma espécie de pregação contra o preconceito e o medo, que em seu entendimento, seria a causa da xenofobia, ou "alienfobia" na série, convidando a todos, posteriormente, a cantarem a música There's  No Hiding Place Down Here. Nesse meio tempo, em outra localidade e simultaneamente à pregação e canção citadas, um líder político que apoiava práticas xenofóbicas é espancado até a morte pelas mesmas pessoas que ele tanto desprezava(link).
Isso deveria ser uma frota de naves saindo do Hiperespaço?

Claro que a série tem 

alguns pontos negativos, sendo que o principal se constitui de sua obsolescência. Digo, sejamos sinceros, em pleno século XXIII é imaginável que os comunicadores dos militares dirigentes da estação, sejam menores e mais funcionais que o meu celular, o que, no entanto, não acontece... outra coisa meio chata, até engraçada na verdade, é que vários dos problemas da estação poderiam ser resolvidos com medidas de segurança simples, como a instalação de um circuito de vigilância interna em toda a base, tecnologia que, entretanto, não parece ser mais comum aos seres humanos, nem sequer foi descoberta pelos aliens mais avançados do universo. Porra! Os malditos conseguem construir naves que atravessem de um canto a outro a galáxia, alguns até abandonam sua forma física, mas nenhum deles é capaz de instalar um maldito olho vivo! Nem preciso falar dos efeitos especiais que não são muito bons. Sério, são ruins mesmo. Todas as cenas de batalhas espaciais me lembram de jogos de playstation lançados antes dos anos 2000... os gráficos e efeitos são absolutamente datados. 

Fora a misteriosa ausência de chineses na série. Digo, têm russos e americanos saltitando por todos os cantos, mas quase nenhum oriental... Sério, isso não faz o menor sentido, mesmo para a época em que a série foi criada!!!

No entanto, dado todos os pontos positivos que mencionei antes, creio que um julgamento de toda a obra seria positivo. Sendo que recomendo fortemente que qualquer fã do gênero sci-fi, dê ao menos uma olhada, mesmo que desinteressada nessa série. Um ultimo detalhe, o trailer abaixo possui a intro que coloquei no início do texto, cada episódio começa com essa pequena introdução, sendo que a cada temporada ela é incrementada com os fatos da temporada anterior.


DICA CINEMATOGRÁFICA: Underground - Mentiras de Guerra


Como minha primeira publicação relativa à sétima arte, escolho meu filme preferido, Underground, dirigido por Emir Kusturica. Confesso que esse filme ficou enterrado sob toneladas de gigas do meu HD por anos, até que, um belo dia, resolvi dar uma chance ao cinema do leste europeu, e me arrependi profundamente pela demora em ter feito isso.

Basicamente, o enredo trata sobre dois amigos, dois vigaristas natos (embora um deles seja essencialmente bom, enquanto o outro não), que diante do início da Segunda Guerra Mundial tentam inicialmente lucrar o máximo possível com a catástrofe, mas que depois, apenas tentam sobreviver a ela, sendo que a história, ou a catástrofe, se estende até o período da Guerra da Bósnia. 

No entanto, viver, ou puramente sobreviver como é feito pelos personagens do filme, não implica em tirar da existência toda a sua beleza, toda a sua poesia. A harmonia de toda a vida possui maravilhosos e terríveis tons e crescendos de insensatez e loucura. 

Nessa ópera guiada pela vertiginosa batuta de um maestro louco, não nos resta senão, portanto, dançarmos, rirmos, brigarmos e chorarmos, mesmo que diante do cadafalso, como os personagens do filme citado.

No fim das contas, o filme possui uma mensagem bastante positiva quanto à vida e, possivelmente, quanto ao que há além dela. Com sorte, talvez ele esteja certo, talvez depois de tudo o que fizemos, seja o sublime ou abissalmente asqueroso, possamos nos reunir aos nossos amigos e entes queridos e festejar, porque a vida não se trata mais do que isso, de uma eterna festa de bêbados, falastrões, bons homens e maus homens, mas sobretudo, seres humanos.

Antes de encerrar, mais essa sandice, como já disse, a minha primeira sandice cinematográfica, posto minha cena preferida do filme abaixo. Se alguém realmente se aventurar a vê-lo, espero que o façam, não por mim, mas porque é realmente um espetáculo, espero que vocês também, como eu, chorem, se desesperem e se maravilhem diante dela.
Eu realmente amo essa cena!