Existe um velho ditado, segundo o qual, se as pessoas soubessem como as leis e as salsichas são feitas, não se fariam tantas leis, tampouco se comeriam tantas salsichas. Embora um bocado tolo, esse velho provérbio não deixa de carregar uma verdade pouco agradável. O processo de criação de uma lei é muito mais complicado e tortuoso do que a maior parte das pessoas é capaz de imaginar. Nesse ponto, deixo claro que, quando digo que fazer uma lei é uma tarefa tortuosa e complexa, não estou me referindo ao processo legislativo, que já é, por si só, essencialmente truncado mesmo para os mais entendidos(refiro-me aos iniciados nos arcanos jurídicos), mas falo, na verdade, do processo político atrás da criação de cada lei. Para ser mais específico, falo das conversas e discussões de gabinete, dos lobismos, das pequenas intrigas, de tudo aquilo que apenas cogitamos, mas que, na realidade, não sabemos se, como, ou sequer em que proporção, ocorre nos corredores do poder, mas que temos, entretanto, a mais absoluta certeza, que são fatores decisivos para a tomada de cada decisão, a elaboração de cada lei.
Creio que é a essa ignorância geral a que todos sofremos com relação à máquina do poder, a quem, House of Cards, uma série produzida pela Netflix em 2013, deve em boa parte o fascínio que exerce sobre o seu público. Obviamente, não estou dizendo que a série não seja boa por si só. Tenho até de confessar, que ela é, sem dúvida alguma, um dos melhores seriados a quem tive o prazer de acompanhar em minha patética e curta existência. Entretanto, em um mundo em que se tornou comum as pessoas se declararem "apolíticas"(o que quer que isso signifique para elas), e a, comumente, identificarem a política como algo genuinamente maléfico(senão o próprio mal), o seriado nos enfeitiça graças ao fato de mostrar algo que normalmente tanto nos é negado, quanto também voluntariamente esquecido por todos nós. A arena política, o grande mercado de carnes, onde não existem os tons de branco e escuro das campanhas eleitorais, mas apenas cinza, e que influencia, em uma grande e média escala, a nossa vida e as vidas de uma infinidade de outros indivíduos. Nos não sabemos como as coisas são feitas, como os acordos são chancelados, como os reis sobem e caem de seus tronos. Não. Somos meros cidadãos, plebeus, e, assim como sempre foi, somos, ou ao menos tentamos ser, indiferentes aos deuses que, em seu distante Olimpo, nos julgam e tem nosso destino em suas mãos.
A propósito, falando em deuses e reis, não posso deixar de dizer que o protagonista da série, Frank Underwood(Kevin Spacey), é inspirado(senão absolutamente idêntico), ao personagem Ricardo III da peça de mesmo nome, de autoria de William Shakespeare. Bom dizer, que ambos, tanto Ricardo como Underwood, compartilham a mesma sina e história, ou seja, ambos estão muito perto e muito longe de seu maior objeto de desejo, o trono. Ambos também não medem esforços para alcançar definitivamente a coroa, vivendo em um mundo sem regras morais, sem nenhuma obrigação ou culpa, apenas tendo em vista o seu objetivo. Dessa forma, House of Cards, assim como a já citada peça do célebre escritor inglês, nos enfeitiça graças à perversidade, à pura vileza de seu personagem principal. Sim, meus caros amigos, sinto lhes dizer, mas todos sofremos de uma certa simpatia pelo mal, pela baixeza, todos sentimos vertigem frente à escuridão. Adoramos o vilão que, mesmo tendo consciência de sua própria vileza, se regozija de sua maldade, festejando a cada ato torpe que acerta o seu alvo, a cada inocente que cai sob seus golpes. Claro que não estou dizendo que gostaríamos de repetir seus atos, ou sequer que o aprovaríamos se estivéssemos ao seu lado. Apenas gostamos, ao menos eu julgo, de contemplar o abismo, e sermos, ocasionalmente, também vistos pelo mesmo.
Mas confesso que não é apenas pelo tema e pelo carisma maléfico de seu protagonista, que o seriado em questão é tão fascinante para mim. Não. Além da boa direção e fotografia, toda a trama, assim como o desenvolvimento dos outros personagens, é tão bem desenvolvida, tão trágica, mas ao mesmo tempo tão realista, que confesso que, por todo o tempo que assisti ao seriado, fiquei a mercê de seu feitiço, fui vítima de seu fascínio. Cheguei a um ponto, em que anotei cada frase de efeito usada, me afligi pela queda e desventura de cada personagem, alegrei-me por suas vitórias(mesmo quando imorais), entristeci-me pela derrocada de seus planos(principalmente quando essa era justa). Céus. Pode ser que tudo não passe de um fruto de minha fraqueza(como quase sempre é), mas realmente apreciei cada instante da série, sendo que a recomendo fortemente para qualquer um que queira passar bem o seu tempo livre.
Creio que é a essa ignorância geral a que todos sofremos com relação à máquina do poder, a quem, House of Cards, uma série produzida pela Netflix em 2013, deve em boa parte o fascínio que exerce sobre o seu público. Obviamente, não estou dizendo que a série não seja boa por si só. Tenho até de confessar, que ela é, sem dúvida alguma, um dos melhores seriados a quem tive o prazer de acompanhar em minha patética e curta existência. Entretanto, em um mundo em que se tornou comum as pessoas se declararem "apolíticas"(o que quer que isso signifique para elas), e a, comumente, identificarem a política como algo genuinamente maléfico(senão o próprio mal), o seriado nos enfeitiça graças ao fato de mostrar algo que normalmente tanto nos é negado, quanto também voluntariamente esquecido por todos nós. A arena política, o grande mercado de carnes, onde não existem os tons de branco e escuro das campanhas eleitorais, mas apenas cinza, e que influencia, em uma grande e média escala, a nossa vida e as vidas de uma infinidade de outros indivíduos. Nos não sabemos como as coisas são feitas, como os acordos são chancelados, como os reis sobem e caem de seus tronos. Não. Somos meros cidadãos, plebeus, e, assim como sempre foi, somos, ou ao menos tentamos ser, indiferentes aos deuses que, em seu distante Olimpo, nos julgam e tem nosso destino em suas mãos.
Mas confesso que não é apenas pelo tema e pelo carisma maléfico de seu protagonista, que o seriado em questão é tão fascinante para mim. Não. Além da boa direção e fotografia, toda a trama, assim como o desenvolvimento dos outros personagens, é tão bem desenvolvida, tão trágica, mas ao mesmo tempo tão realista, que confesso que, por todo o tempo que assisti ao seriado, fiquei a mercê de seu feitiço, fui vítima de seu fascínio. Cheguei a um ponto, em que anotei cada frase de efeito usada, me afligi pela queda e desventura de cada personagem, alegrei-me por suas vitórias(mesmo quando imorais), entristeci-me pela derrocada de seus planos(principalmente quando essa era justa). Céus. Pode ser que tudo não passe de um fruto de minha fraqueza(como quase sempre é), mas realmente apreciei cada instante da série, sendo que a recomendo fortemente para qualquer um que queira passar bem o seu tempo livre.
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