segunda-feira, 25 de agosto de 2014

DICA CINEMATOGRÁFICA - Hannibal - It's alive! It's alive! Again!



"(...)Está tão bem temperado e flambado
e tão adoravelmente servido em porcelana
e com um bom vinho e suave luz de vela
Sim, vou devagar, devo ser elegante
Porque você é o que você come
e você sabe o que é
(...)"

Sempre fugi da ideia de conceitos absolutos e de concepções maniqueístas. Creio, que embora esses sejam essenciais à existência do discurso, digo, à própria comunicação, já que precisaríamos de mais do que palavras, para passar uns aos outros as inúmeras tonalidades morais e existenciais da realidade, essa prática possui um defeito, uma limitação essencial. Ela faz com que as pessoas se acostumem tanto com a ideia de uma paleta de tons únicos, que se esqueçam que os mesmo são bastante incomuns. Na verdade, que não existem por essência, sendo apenas uma ideia platônica, um tipo ideal weberiano, apenas um exemplo. Mesmo a sanidade, um dos conceitos que temos por mais sólidos, se dissolve à uma análise mais acurada. Na verdade, mais do que isso, a sanidade, por si só não existe, é uma mera ficção. Ela é um pequeno padrão comportamental, absolutamente dependente de seu período histórico, e envolvida por uma infinidade de outros comportamentos, muitas vezes análogos, mas que são, por mera conveniência, tidos como loucura. A sanidade, portanto, é meramente uma forma aceitável de loucura. Conforme disse uma vez Caetano Veloso, olhando de perto ninguém é normal.
Definitivamente, de perto ninguém é normal!


De longe menos ainda...

Creio que deve ser por isso, e não só pela mera simpatia pelo mal que todos compartilhamos, que Hannibal Lecter é um personagem tão famoso no cinema e na literatura. Afinal, o mesmo é como Jano, possuindo duas faces absolutamente diversas, mas ao mesmo tempo, de mesmo princípio. Lecter é claramente insano por sua selvageria e crueldade(fora seus hábitos alimentares), mas, ao mesmo tempo, sendo sempre apresentado como uma autoridade na psiquiatria, seu discurso seria capaz, originalmente, de definir o que é, e o que não é sano. Dessa forma, Lecter, o louco canibal, possuiria em suas mãos as chaves da sanidade. Dado esse caráter instigante do personagem, torna-se mais compreensível, portanto, o receio que muitos tiveram quando a NBC anunciou estar produzindo um seriado com ele. Não nos esqueçamos o que um má produção pode fazer a uma franquia. Lembremos o que enterrou Hannibal Lecter nos cinemas. Sim, não finja que não se lembra daquele filme horroroso... Hannibal a origem do mal, filme que se destinava a explicar o início do personagem, mas que serviu apenas para jogar uma pá de cal sobre sobre ele e seus filmes. Entretanto, todos os temores ao fim se mostraram exagerados. Hannibal, a série, possuiu uma produção e execução excelentes, e um roteiro memorável. Hannibal está vivo novamente! It's alive! It's alive! Again! #risadamaligna


Antes que os haters de plantão tenham ataques alegando que se estaria lesando a santidade do personagem, têm-se de  se dizer que o período em que a série se passa, é uma lacuna tanto nos livros quanto nos filmes. Toda a trama ocorre no período anterior à prisão do personagem, sendo que, cronologicamente, ela se localizaria, mais especificamente, entre Hannibal a origem do mal, e Dragão Vermelho. Nesse período, conforme o canône oficial, Hannibal estaria auxiliando Will Grahaam e o FBI na caça de psicopatas. Além do mais, convenhamos, por mais que eu adore o Anthony Hopkins(e eu sinceramente, e de forma absolutamente hétero, amo-o de paixão),  ele não se parece nem um pouco com o personagem que é descrito nos livros. Lá, Lecter não só seria anos(quiçá décadas) mais novo, mas também seria ruivo(e, apenas por amor às descrições detalhadas, teria polidactilia nas duas mãos e pés). Dessa forma, por eliminação, e sem desmerecer os grandes méritos do titio Hopkins, Mads Mikkelsen seria mais apropriado para o papel. Sem contar, que ele também consegue ser bastante assustador, dada sua peculiar ausência de expressões faciais( assim como Nicolas Cage). Acredite, isso é bastante assustador, e em um ponto de vista positivo! Afinal, acho, a sério, Mikkelsen um excelente ator.


Recomendo a série, portanto, a todos aqueles que queiram passar seus momentos de ócio e procrastinação de forma produtiva, ou ao menos, extremamente prazerosa. Embora, seja obrigado, mesmo relutantemente, a avisar que estômagos de compleição mais delicada podem ter sérios problemas com a série. Não só pelas constantes menções ao canibalismo praticado pelo seu protagonista(uma alimentação com muita proteína animal é fundamental), mas também por um alto índice de mutilação e violência visual presentes em cada episódio(embora, considerando o nome da série ache isso bastante aceitável). Na verdade, um dos grandes méritos da série, e um dos motivos de ser tão difícil de indicá-la, é o fato dela ter elevado o gore a algo artístico, embora seja necessário assistir a série, para realmente entender essa afirmação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário