"Dies irae! Dies Illa
Solvet saeclum in favilla
Teste David cum Sybilla!
Quantus tremor est futurus,
quando iudex est venturus,
cuncta stricte discurssurus"
O filme sobre o qual tecerei meus delírios será, dessa vez, Jōi-uchi: Hairyō tsuma shimatsu (上意討ち 拝領妻始末), ou como é mais conhecido no ocidente, Samurai Rebellion, ou simplesmente, Rebelião, um filme japonês, produzido em 1967 e de direção de Masaki Kobayashi. De início, tenho de confessar que não estava muito entusiasmado quanto ao filme. Não que eu não goste de filmes do estilo. Adoro! Mas, sinceramente, esperava o básico de qualquer filme que se pretenda passar no Japão Feudal e que tenha sido produzido há mais de três décadas atrás, ou seja, kattanas, muitas frases de efeito(embora dentro de atuações fracas), e lutas bem coreografadas(embora sem sangue). No entanto, para minha surpresa, me defrontei com pouca ou nenhuma ação(também pouco sangue), e com uma trama que transpirava mais engajamento e tragédia do que muitos filmes contemporâneos que se pretendem sérios. Sendo que confesso que o ponto mais alto do filme, ao menos para mim, foi a relevância e o desenvolvimento que foram dadas à protagonista Ichi, já que, normalmente, em filmes da mesma temática as personagens femininas são completamente planas ou, na melhor das hipóteses, apenas fazem parte do ambiente(com raras exceções, é claro). Na verdade, considerando o tempo histórico em que o filme se passa, poderia até dizer que a personagem possui um talhe quase libertário, senão semi-feminista(com as devidas proporções, claro).
Mas, claro, antes de me perder em minhas teorias e elucubrações, tenho de lhes repassar o plot básico do enredo. Como já disse, a história se passa no Japão Feudal, mais especificamente no período Edo, em uma pequena província, afastada da grandiosa Tóquio feudal e do Xogunato, mas não fora das tortuosas sendas do poder. Por obvio, depois desse pequeno trecho, imagino que seja necessário um pequeno parênteses(sim, pode parar de coçar a cabeça e olhar para a tela desse jeito), para se explicar o que diabos foi o período Edo e o que é o Xogunato. Sem me perder em explicações que vocês poderão encontrar, perfeitamente, no google, faço a seguinte associação que vi em um site: o período Edo seria semelhante à Baixa Idade Média. Nesse período, o xogum(algo semelhante a um rei), exercia seu poder regional através dos Daimyos(a nobreza), que se utilizavam da força dos samurais(a sua cavalaria medieval) para governar e administrar suas terras. Tendo isso claro, pode-se entender mais facilmente o enredo, que, por obvio, dado o título do filme, tem como centro um conflito entre a hierarquia que eu acabo de descrever.
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Quando vejo a cena tenho a impressão que eles, a qualquer momento, vão começar a dançar ao som de Menudos... |
Shitt!!! E lá vamos pelo terceiro bloco de texto sem que, uma palavra sequer quanto ao enredo tenha sido realmente dita. É melhor que eu me apresse...bom, na trama, Isaburo é um velho samurai que faz parte da guarda do Daymo. Na verdade, mais do que isso, ele é descrito como o melhor espadachim de toda a região. No entanto, como já disse, ele já era velho e logo passaria seu cargo(tanto profissional quanto de chefe da família) ao seu filho Yogoro, e iria poder, assim, aproveitar sua velhice ao lado de sua esposa, a quem realmente detestava. No entanto, sua vida seria pacata se não tivesse sido requisitado que seu filho, Yogoro, se cassasse com Ichi, uma ex-concubina(expulsa por seu "mau comportamento"), e ainda mãe do herdeiro do Daymo. Como diria a mãe de Yogoro; Isso é uma desonra! Uma razão de vergonha eterna para o clã! Citando, quase literalmente, uma outra dela fala dela, "a mulher era de segunda mão, tinha mau gênio e, como se isso já não bastasse, já tinha tido um filho!" Sim, essa personagem não era exatamente uma pessoa muito agradável. No entanto, ao contrário do escruciante casamento também forçado de Isaburo, e contra todas as expectativas, Ichi e Yogoro são felizes(um casamento feliz, vê-se aqui que um aspecto de ficção quase fantástica do filme), tendo inclusive uma filha. A vida deles seria boa, se o Daymo não requisitasse Ichi novamente ao castelo como sua concubina...
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Lucha!! Lucha!!! |
Não vou contar mais, porque acabaria dando spoilers sobre a história, que confesso ser muito boa. Não me resta, portanto, nada mais do que recomendá-lo, sendo que então... Recomendo esse filme, portanto, não só para aqueles que gostem do gênero samurai, como também para todos que gostem de um bom e trágico filme.
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