sexta-feira, 23 de junho de 2017

DICA CINEMATOGRÁFICA - SAMURAI REBELLION: História Japonesa, Lucha - Lucha e Tragédias


"Dies irae! Dies Illa
Solvet saeclum in favilla
Teste David cum Sybilla!

Quantus tremor est futurus,
quando iudex est venturus,
cuncta stricte discurssurus"

O filme sobre o qual tecerei meus delírios será, dessa vez, Jōi-uchi: Hairyō tsuma shimatsu (上意討ち 拝領妻始末), ou como é mais conhecido no ocidente, Samurai Rebellion, ou simplesmente, Rebelião, um filme japonês, produzido em 1967 e de direção de Masaki Kobayashi. De início, tenho de confessar que não estava muito entusiasmado quanto ao filme. Não que eu não goste de filmes do estilo. Adoro! Mas, sinceramente, esperava o básico de qualquer filme que se pretenda passar no Japão Feudal e que tenha sido produzido há mais de três décadas atrás, ou seja, kattanas, muitas frases de efeito(embora dentro de atuações fracas), e lutas bem coreografadas(embora sem sangue). No entanto, para minha surpresa, me defrontei com pouca ou nenhuma ação(também pouco sangue), e com uma trama que transpirava mais engajamento e tragédia do que muitos filmes contemporâneos que se pretendem sérios. Sendo que confesso que o ponto mais alto do filme, ao menos para mim, foi a relevância e o desenvolvimento que foram dadas à protagonista Ichi, já que, normalmente, em filmes da mesma temática as personagens femininas são completamente planas ou, na melhor das hipóteses, apenas fazem parte do ambiente(com raras exceções, é claro). Na verdade, considerando o tempo histórico em que o filme se passa, poderia até dizer que a personagem possui um talhe quase libertário, senão semi-feminista(com as devidas proporções, claro).
Mas, claro, antes de me perder em minhas teorias e elucubrações, tenho de lhes repassar o plot básico do enredo. Como já disse, a história se passa no Japão Feudal, mais especificamente no período Edo, em uma pequena província, afastada da grandiosa Tóquio feudal e do Xogunato, mas não fora das tortuosas sendas do poder. Por obvio, depois desse pequeno trecho, imagino que seja necessário um pequeno parênteses(sim, pode parar de coçar a cabeça e olhar para a tela desse jeito), para se explicar o que diabos foi o período Edo e o que é o Xogunato. Sem me perder em explicações que vocês poderão encontrar, perfeitamente, no google, faço a seguinte associação que vi em um site: o período Edo seria semelhante à Baixa Idade Média. Nesse período, o xogum(algo semelhante a um rei), exercia seu poder regional através dos Daimyos(a nobreza), que se utilizavam da força dos samurais(a sua cavalaria medieval) para governar e administrar suas terras. Tendo isso claro, pode-se entender mais facilmente o enredo, que, por obvio, dado o título do filme, tem como centro um conflito entre a hierarquia que eu acabo de descrever. 
Quando vejo a cena tenho a impressão que eles, a qualquer momento, vão começar a dançar ao som de Menudos...

Shitt!!! E lá vamos pelo terceiro bloco de texto sem que, uma palavra sequer quanto ao enredo tenha sido realmente dita. É melhor que eu me apresse...bom, na trama, Isaburo é um velho samurai que faz parte da guarda do Daymo. Na verdade, mais do que isso, ele é descrito como o melhor espadachim de toda a região. No entanto, como já disse, ele já era velho e logo passaria seu cargo(tanto profissional quanto de chefe da família) ao seu filho Yogoro, e iria poder, assim, aproveitar sua velhice ao lado de sua esposa, a quem realmente detestava. No entanto, sua vida seria pacata se não tivesse sido requisitado que seu filho, Yogoro, se cassasse com Ichi, uma ex-concubina(expulsa por seu "mau comportamento"), e ainda mãe do herdeiro do Daymo. Como diria a mãe de Yogoro; Isso é uma desonra! Uma razão de vergonha eterna para o clã! Citando, quase literalmente, uma  outra dela fala dela, "a mulher era de segunda mão, tinha mau gênio e, como se isso já não bastasse, já tinha tido um filho!" Sim, essa personagem não era exatamente uma pessoa muito agradável. No entanto, ao contrário do escruciante casamento também forçado de Isaburo, e contra todas as expectativas, Ichi e Yogoro são felizes(um casamento feliz, vê-se aqui que um aspecto de ficção quase fantástica do filme), tendo inclusive uma filha. A vida deles seria boa, se  o Daymo não requisitasse Ichi novamente ao castelo como sua concubina... 
Lucha!! Lucha!!!

Não vou contar mais, porque acabaria dando spoilers sobre a história, que confesso ser muito boa. Não me resta, portanto, nada mais do que recomendá-lo, sendo que então... Recomendo esse filme, portanto, não só para aqueles que gostem do gênero samurai, como também para todos que gostem de um bom e trágico filme.







DICA LITERÁRIA/CINEMATOGRÁFICA: ENDER'S GAME(O JOGO DO EXTERMINADOR) - Video Games, Genocídio e Falhas de Comunição

"No momento em que eu realmente entender meu inimigo, entendê-lo bem suficiente para derrotá-lo, então, neste momento, eu também o amo."
O Jogo do Exterminador

It's all about the game and how you  play it
It's all about control and if you can take it
It's all about your debt and if you can pay it
It's all about the pain and who's gonna make it

War. War Never Changes.

Ender's Game, ou no Brasil, O Jogo do Exterminador, é o primeiro livro de uma das mais aclamadas tetralogias de toda a ficção científica contemporânea. A obra, que se passa em um distante futuro onde a humanidade se defronta com uma nova forma de vida inteligente, discute temas controversos como o abuso infantil, genocídio, a influência política das redes sociais, lavagem cerebral e a racionalização do mal. Eu ainda poderia falar que o livro é uma leitura recomendada por várias organizações militares do mundo, como os United States Marine Corps(os fuzileiros), e que além do prêmio Nebula, o livro ainda ganhou o prêmio Victor Hugo graças a sua excelência. Entretanto, mais do que falar dos méritos do livro, preciso antes fazer uma escusa ao mesmo, digo, me desculpar pelo maior e mais visível obstáculo da obra à aceitação pública, o seu autor. Sim meus amigos leitores imaginários, o autor desse maravilhoso livro, Orson Scott Card, é uma pessoa... controversa


Tá... chamar apenas de controverso alguém que abertamente faz declarações públicas homofóbicas em pleno século XXI, é o mesmo que dizer que o cogumelo atômico de Hiroshima foi uma estalinho  de São João. No entanto, a despeito das declarações do autor condizem muito pouco com a realidade de sua obra, que em sua totalidade traz uma mensagem de tolerância e aceitação quanto ao diferente. Mas como de costume, coloco a carroça na frente dos burros(Sim, sou velho o suficiente para conhecer esse tipo de ditado), me esquecendo de falar do mais importante, do livro em si. Como dizia Jack, o estripador, vamos por partes!!! O enredo da obra se passa no ano de 2136, 50 anos depois de uma invasão alienígena quase ter dizimado a raça humana. Temendo um novo ataque, a humanidade cria uma poderosa força de defesa mundial. Agora, mais do que recrutar massas infindáveis de adultos maduros para combater, as crianças mais dotadas são retiradas das suas famílias e treinadas para se tornar máquinas de guerra perfeitas. No entanto, um problema remanesce, ninguém é capaz de entender as táticas ou mesmo as intenções dos alienígenas, na verdade, sequer sabe-se como os mesmos foram derrotados, sendo que nesse ponto encontramos nosso protagonista/solução, o jovem Ender.


Não posso revelar muito mais do enredo, porque isso poderia trazer spoilers tanto sobre o livro quanto sobre a adaptação cinematográfica do mesmo(que também ficou muito boa). Não posso, entretanto, deixar de elogiar o fato que mesmo publicado em 1977, a obra conseguiu desenvolver muitos conceitos que embora à época não fossem relevantes, hoje são parte importante da forma como nossa sociedade se estrutura, tais como a importância da mídia alternativa e dos blogs no cotidiano político, a utilização de games ou de realidade virtual para treinamento militar e mesmo manipulação psicológica em nível individual e coletivo. Não posso poupar elogios também à sequência O orador dos mortos(ainda estou tentando encontrar Ender, o Xenocída para comprar). Nela, assim como em Ender's Game, temos um dos  insights mais inovadores que já vi serem desenvolvidos em um livro de ficção.
A ideia de que a guerra, o genocídio e a violência, em outras palavras, o extermínio do outro, são essencialmente a consequências de situações onde não existe diálogo. Em outras palavras, não havendo a possibilidade de dialogo entre dois seres, ou duas civilizações, diferentes a violência e a nulificação do outro são a única e trágica resposta possível. Sim, eu sei que parece inicialmente algo tolo, mas praticamente todos os conflitos na história humana podem se explicados em alguma medida por esse conceito. Sejam aliens contra humanos, europeus contra indígenas ou mesmo pequenos conflitos urbanos, todos os conflitos, a violência pura e simples, é uma simples consequência de uma falha de comunicação.

Mas já me demoro demais num texto que deveria ser curto. Então... se recomendo a leitura de Ender's Game? Você leu o que escrevi acima infeliz caro leitor imaginário? Obviamente RECOMENDO, embora, como já disse, eu pessoalmente discorde, e ache mesmo que a própria obra discorda em sua essência, das palavras e posicionamentos tomados por  Orson Scott Card. A propósito, abaixo postei o trailer do adaptação do livro para o cinema. Confesso que gosto mais do livro... mas para os mais preguiçosos entre vocês, meus amados filhos da leitores imaginários, fica a dica.


sexta-feira, 16 de junho de 2017

DICA LITERÁRIA: A Crônica do Matador do Rei - MAGIA, MIOJO E A VIDA UNIVERSITÁRIA



"Há três coisas que todo homem sábio deve temer. O mar em uma tempestade, uma noite sem lua, e a ira de um homem gentil."
A Crônica do Matador do Rei: Primeiro Dia

"I Hurt myself today
To see if still fell
I focus on the pain
The only thing that's real"
Hurt - Trent Reznor(versão no link do Jonny Cash)

O que posso dizer dessa narrativa que mal começou, mas que já considero pacas?!?! Brincadeiras a parte, A Crônica do Matador de Reis( The Kingkiller Chronicle) é o nome do conjunto de obras, ainda em execução, escritas pelo norte americano Patrick Rothfuss. A história, narrada pelo próprio protagonista, embora agora velho e moralmente alquebrado pelo tempo e dissabores, se passa quando o mesmo ainda era jovem, quando ele passava por um dos períodos mais difíceis e desafiadores na vida de qualquer jovem, seja num universo fantasioso, seja no mundo real, se passa durante seu período universitário. Sim, meus queridos leitores imaginários, seja no mundo real comendo diariamente miojo e fazendo das tripas coração para pagar pilhas ridiculamente grandes de apostilados, seja num universo fantástico com magia e perspectivas de vida tristemente mais interessantes que as nossas, a vida de um universitário é padecer no paraíso.



Estarei exagerando? Dramatizando às raias do romanesco sobre uma situação que na verdade não é tão sombria quanto parece? Certamente! E ao mesmo tempo não. O ambiente universitário é, na nossa sociedade, um dos principais ritos de passagem da juventude para a maturidade de parcela considerável da população. É nele que temos, sem demagogias, acesso à ideias, pessoas e universos completamente dissociados de nossas experiência empíricas anteriores. No entanto, é também um ambiente onde nossas concepções de valores e mundo são contestadas, e onde muitas vezes nossa própria identidade é posta em xeque. Em resumo, é o período em que cometemos nossos maiores acertos e erros, estes últimos com maior frequência(Sim, adoro ser dramático).   E talvez seja por isso que A Crônica do Matador do Rei seja tão próxima da nossa realidade. Mais do que apresentar o processo do conhecimento como algo mágico e interessante, aqui vemos um protagonista extremamente humanizado se debatendo contra desafios, obstáculos, realizações e sonhos comuns a todos nós. Temos desde a formação do "grupinho da faculdade" a conhecida ultima chance de termos amigos que nos suportarão até o túmulo(se vc ainda não está num grupinho... SHAME ON YOU, SHAME!!!), a crush por algum motivo aleatório inatingível, o dia em que se encontra finalmente a área em que você vai se especializar( e a sucessão de inumeráveis matérias e áreas do conhecimento que se encontra até lá),  e o maior obstáculo de todos... o vil metal. 


Tá... a narrativa não se centra nas agruras do protagonista Kvothe para arrumar dinheiro e se sustentar(essa é a história da minha vida), mas num interessante nó narrativo que envolve governos medievais ao melhor estilo GoT(Game of Thrones, pelo amor dos sete deuses!!!), um misterioso inimigo que ameaça destruir o mundo, e o próprio protagonista que, no presente da história, é a sombra do homem que foi um dia, por causa de um erro ainda a ser narrado. Fora isso, não posso deixar de mencionar que a tradução em português está belíssima, com uma leitura fluída e maravilhosamente viciante(e vejam bem que não estou sendo pago pelo merchan, mas se quiserem me pagar aceito). O único ponto negativo que posso mencionar, é o espaço temporal excessivo que existe entre cada livro( seriamente, parece que todo autor de fantasia possui um ódio obsceno contra o seu próprio público). De resto, só posso dizer uma coisa... RECOMENDO SERIAMENTE a leitura da saga(ainda incompleta) A Crônica do Matador do Rei, a todos que queiram ler algo menos sombrio que Game of Thrones, mas também não queiram apelar para algo excessivamente juvenil. Em resumo, indico o presente livro para todos que quiserem ter uma boa leitura.