quinta-feira, 11 de setembro de 2014

DICA CINEMATOGRÁFICA: Boardwalk Empire - Ozymandias e o Império do Rabo preso



"Eu encontrei um viajante de uma antiga terra
Que disse: - Duas imensas e destroncadas pernas de pedra
Erguem-se no deserto. Perto delas, na areia,
Meio enterrado, jaz um rosto despedaçado, cuja fronte
E lábio enrugado e sorriso de frio comando
Dizem que seu escultor bem suas paixões leu
Que ainda sobrevivem estampadas nessas coisas inertes,
A mão que os escarneceu e a mão que os alimentou.
E no pedestal aparecem estas palavras:
"Meu nome é Ozmandias, rei dos reis:
Contemplem minhas obras, ó poderosos, e desesperai-vos!"
Nada mais resta: em redor a decadência
Daquele destroço colossal, sem limite e vazio
As areias solitárias e planas espalham-se para longe."

Ozymandias(tradução livre) - Percy Bysshe Shelley


Se a humanidade pudesse tirar de toda a sua narrativa histórica alguma lição, alguma espécie de moral, imagino que esta seria quanto à sua própria mortalidade, digo, quanto à própria efemeridade não só de seus indivíduos, mas de suas instituições, de seus ideais e de seus impérios. Sim meus caros, assim como no velho ditado, não há bem que dure ou mal que perdure. Por mais que encaremos nossas ideias e o mundo ao nosso redor como algo eterno e imutável, a realidade(nossa realidade) se dissolve e dilui pouco a pouco, como um pedaço de papel molhado na chuva. Estamos inexoravelmente fadados a um dia presenciarmos, seja pelo  desgaste do tempo ou pela má fortuna, a queda e o desmoronamento de nossas vidas e, com alguma sorte ou azar, do mundo em que por décadas vivemos e crescemos. Não há escapatória plausível, não há final feliz. Todo organismo, seja social ou biológico, envelhece, se deteriora e morre. Sendo que em Boardwalk Empire, uma das séries atualmente mais aclamadas da HBO, podemos ver uma trama onde, mais do que qualquer outra coisa, temos a decadência e o fim da vida de um homem, de seu tempo, e de seu império como os centros principais da trama.
"Early this mornin'
when you knocked upon my door
Early this mornin'
When you Knocked upon my door"

"And I said," Hello Satan,"
I belive it's time to go."
"Me and the devil
was walkin' side by side"
"Me and the devil, ohhh"
(...)
(Me and the Devil Blues - Robert Jonhson)
Mas passemos logo ao que realmente interessa, ao enredo. Esse, passa-se pouco depois do início da vigência da Lei Seca ou O Nobre Experimento(I never understand this crazy white people names), tendo como foco o auge e a queda do império de Nuck Thompson, tesoureiro da Câmara Municipal de Atlantic City, e também indiscutível chefe de todo o crime organizado da cidade. Nesse ponto, imagino que o meu leitor hipotético coçará a cabeça e pensará: "Fuck you! This is a old gangster history. Godfather is better than that!" E eu, como autor do texto, balançarei minha cabeça e direi: Sim little Padawan, essa é uma história de gangsters tal como O Poderoso Chefão.  No entanto, embora eu não possa dizer que ela seja melhor(oh, god no), afirmo que possui grandes méritos, na verdade, trata-se de uma excelente série, uma das melhores que vi. Sendo que um dos seus méritos principais, é que mais incisivamente do que The Godfather, e ao contrário de The Untouchables, The Goodfellas e outras obras do gênero, a série traz a lume uma questão muito interessante, a relação entre o crime organizado e a política. O reinado de Nuck em Atlantic City se baseia em uma intrincada série de relações que o mesmo traçou com políticos, líderes sociais e, obviamente, pequenos chefes do crime em toda a cidade. Se é possível se dizer que os Corleone reinaram sobre Nova York através da força de sua família, e que Al Capone imperou sobre Chicago usando o mais puro sadismo, podemos afirmar categoricamente que Nuck governava quase diretamente Atlantic City, pois do mais insignificante capanga até o político de mais alta patente, todos tinham o rabo preso com ele. 
Da série, pontos positivos de Boardwalk Empire:
1# Frases de efeito e, claro, a simples presença de Steve Buscemi.
2# Sexo e coisinhas afins!!!!!!! É uma série da HBO, ora bolas!
3# Pessoas ensandecidas carregando metralhadoras.
4# Headshots(a lot of headshots!).

Obviamente,  nem tudo são flores. A série, que teve seu episódio inicial dirigido pelo Scorsese, peca bastante por não saber gerenciar seus personagens, que são muitas vezes descartados quando ainda são importantes na trama, gerando efeitos e consequências que não são tão bem trabalhadas quanto deveriam. Outro grave defeito, é o ritmo excessivamente lento da narrativa nos episódios iniciais, o que desmotivou muitas pessoas a acompanharem a série logo no início(embora o ritmo da narrativa fique bem mais rápido, ainda antes da metade da primeira temporada). Entretanto, esses pontos, ao menos na minha opinião, não são capazes de desmerecer a série que, conforme já citei, é uma das melhores a que tive o prazer de assistir.
 E como ultimo adendo antes de, como de costume, fazer minha usual e genérica recomendação, ou não, da obra que o texto analisa, tenho duas pequenas observações a fazer. A primeira, mais uma curiosidade, é a de que o protagonista da série, Nuck Tompson, realmente existiu, embora com uma história de vida um pouco menos interessante do que a retratada na série(normal, a vida sempre é mais tediosa fora da TV). E a segunda, mais uma sugestão literária do que qualquer outra coisa, é uma dica de um livro que poderá dar ao possível novo fã da série, uma ideia de como as primeiras décadas do século XX foram, particularmente nos Estados Unidos, um efervescente caldeirão étnico e social, o nome desse livro é Ragtime, de E.L. Doctorow(para quem não quiser ler o livro, existe uma excelente adaptação dele para o cinema pelas mãos do Milos Forman). And now, o momento que todos esperavam, o momento em que levantarei minha mão e indicarei com o polegar, assim como os imperadores romanos durante as lutas de gladiadores, se a série deve ou não viver para um novo dia(como se alguém realmente se importasse com minha opinião). #Suspense. #Tambores. #Close. E ela viverá! #OColiséuvaialoucura. #Precisovoltaratomarmeusremédios. #Sim,euindiqueiasériepoha.







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