No cinema e na televisão, atualmente é muito difícil encontrarmos qualquer obra que fuja do comum, do trivial. O que normalmente ocorre, é que quando surge qualquer filme, seriado ou produto cultural do gênero, que seja inovador, criativo, único, ele começa a ser exaustivamente copiado e explorado até a sua total exaustão. Fenômeno que pode ser visto, particularmente, em um subgênero do terror muito badalado nos últimos tempos, os filmes de zumbi. Depois da sensacional Night of the Living Dead, dirigida George Romero em 1968(que inclusive foi o pontapé inicial desse tipo de filmes), poucos filmes e obras que lhe sucederam, realmente acrescentaram algo ao gênero, que com The Walking Dead(tanto os quadrinhos quanto a série de tv) voltou a ser a sensação do momento. No entanto, recentemente tive contato com uma série de tv, curiosamente de produção da BBC, que excedeu qualquer expectativa que eu tivesse, já que criou um paradigma completamente novo ao seu subgênero. O nome desse seriado é In the Flesh, e seu principal mérito, é partir do ponto de vista dos próprios zumbis. Humanizando-os, mas sem cair nos velhos chavões...
A Série se passa sete anos depois eventos semelhantes ao que ocorreram no Night of the living Dead, sendo que durante esse período, o governo conseguiu não só controlar a situação(até porque, qualquer que fosse a razão da reanimação dos mortos, ela não era contagiosa aos vivos), mas também criar uma droga capaz de, não só controlar os reanimados, mas inclusive devolver-lhes sua total consciência(infelizmente com um efeito colateral interessante, eles passam a rememorar suas vítimas). Devolver-lhes sua humanidade.
No entanto, controlar a situação zumbi e devolver esses a uma vida razoavelmente normal, não é algo simples. Até porque, quando despertaram os mortos-vivos, ou portadores da síndrome do falecimento parcial(como são chamados na série), mataram e feriram muitas pessoas, de modo que há por toda a série um clima de hostilidade permanente contra eles.
Outro fato que não ajuda na reintegração dos desmortos à sociedade, é a continuidade de vários pequeno grupos de resistência anti-zumbi, que por seu relevante papel durante toda a catástrofe, gozam ainda na época da série, de grande prestígio social.
No entanto, esse é apenas o contexto onde é narrada a história de Kierren, o personagem principal da trama, e portador da síndrome do falecimento parcial. Depois de ressuscitar e voltar novamente à sua casa, ele passa a se defrontar com uma comunidade hostil à presença de mortos-vivos recuperados(açulada por um fanático religioso, um dos melhores ingredientes da trama), a hostilidade de sua própria irmã, que durante a ascensão zumbi lutou e matou inúmeros desmortos(ela é a ruiva da foto), e seu próprio sentimento de culpa, já que ele é, durante toda a série, assombrado pela culpa e pelas lembranças de uma vítima a qual devorou anteriormente ao seu tratamento.
Não pretendo dar mais spoilers sobre a série. Mas pelo pequeno panorama que tentei tecer, fica claro que essa série não é mais um survival horror ou mais uma série de terror. Ela é, na verdade, uma fábula sobre o preconceito e as questões de minoria.
Antes que qualquer leitor desavisado se assuste com a afirmação, explico. Na série estão presentes todos os elementos de obras que, não tratam de zumbis e outros personagens do horror fictício, mas tratam do horror real, como o preconceito e o racismo. Dos caracteres mencionados, os principais são: problemas de auto imagem dos protagonistas(os desmortos são obrigados a usarem maquiagem e lentes de contato para esconder os sinais de morte e decomposição, mas o personagem Kierrem, passa, com o tempo a não conseguir mais se olhar no espelho sem estar maquiado e pronto); os bons e velhos grupos de linchamento açulados por fanatismos de toda a ordem; o sentimento de hostilidade sempre presente no ar, e mais importante que tudo, o ódio e o medo onipresentes nesse gênero de situação. O medo pelo diferente, pelo novo, por novas situações. Medo esse, que acaba sempre desembocando em uma reação muito mais irracional do que ele mesmo. O ódio, a simples e pura manifestação de agressão contra o que é "aversivo" ao agente. Contra aquilo que não entende e por isso teme.
É por conter esses elementos que acho a série tão inovadora ao gênero, e que recomendo que qualquer um que deseje um bom entretenimento com alguma profundidade, dê uma olhada nela. Para os curiosos, segue o trailer:
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Um dos personagens mais trágicos da série... |
Outro fato que não ajuda na reintegração dos desmortos à sociedade, é a continuidade de vários pequeno grupos de resistência anti-zumbi, que por seu relevante papel durante toda a catástrofe, gozam ainda na época da série, de grande prestígio social.
No entanto, esse é apenas o contexto onde é narrada a história de Kierren, o personagem principal da trama, e portador da síndrome do falecimento parcial. Depois de ressuscitar e voltar novamente à sua casa, ele passa a se defrontar com uma comunidade hostil à presença de mortos-vivos recuperados(açulada por um fanático religioso, um dos melhores ingredientes da trama), a hostilidade de sua própria irmã, que durante a ascensão zumbi lutou e matou inúmeros desmortos(ela é a ruiva da foto), e seu próprio sentimento de culpa, já que ele é, durante toda a série, assombrado pela culpa e pelas lembranças de uma vítima a qual devorou anteriormente ao seu tratamento.
Não pretendo dar mais spoilers sobre a série. Mas pelo pequeno panorama que tentei tecer, fica claro que essa série não é mais um survival horror ou mais uma série de terror. Ela é, na verdade, uma fábula sobre o preconceito e as questões de minoria.
Antes que qualquer leitor desavisado se assuste com a afirmação, explico. Na série estão presentes todos os elementos de obras que, não tratam de zumbis e outros personagens do horror fictício, mas tratam do horror real, como o preconceito e o racismo. Dos caracteres mencionados, os principais são: problemas de auto imagem dos protagonistas(os desmortos são obrigados a usarem maquiagem e lentes de contato para esconder os sinais de morte e decomposição, mas o personagem Kierrem, passa, com o tempo a não conseguir mais se olhar no espelho sem estar maquiado e pronto); os bons e velhos grupos de linchamento açulados por fanatismos de toda a ordem; o sentimento de hostilidade sempre presente no ar, e mais importante que tudo, o ódio e o medo onipresentes nesse gênero de situação. O medo pelo diferente, pelo novo, por novas situações. Medo esse, que acaba sempre desembocando em uma reação muito mais irracional do que ele mesmo. O ódio, a simples e pura manifestação de agressão contra o que é "aversivo" ao agente. Contra aquilo que não entende e por isso teme.
É por conter esses elementos que acho a série tão inovadora ao gênero, e que recomendo que qualquer um que deseje um bom entretenimento com alguma profundidade, dê uma olhada nela. Para os curiosos, segue o trailer:
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