quinta-feira, 15 de maio de 2014

DICA CINEMATOGRÁFICA: The Man from Earth - Who Wants To Live Forever?

The Man from Earth, é um filme norte americano, produzido em 2007 e com direção de Richard Schenkman e roteiro de Jerome Bixby. De baixo orçamento e com atores praticamente desconhecidos, esse filme, de início, poderia dar a impressão de estar fadado ao esquecimento, como tantos outros filmes, bons e ruins, que não vêem à luz do grande público. No entanto, contra qualquer expectativa, The Man from Earth é continuamente indicado em aulas de antropologia, filosofia, teologia e até direito, como uma ótima forma de discussão de temas distintos, mas absolutamente importantes, como a passagem e percepção do tempo, a imortalidade, a possibilidade da verdade em uma narrativa e, os temas mais controversos de todos, a religião e a possibilidade de um sentido para a existência.

Passando ao enredo, o filme começa com uma série de professores universitários de diferentes áreas, como biologia, história, filosofia, antropologia, psicologia, teologia e etc, que vão até a casa de um professor de história da universidade onde todos trabalham, se despedir do mesmo, já que ele, sem nenhum motivo aparente, resolveu largar a cátedra que ocupava na universidade e viajar para o exterior. Após algumas bebidas, todos se reúnem na sala de estar da casa do referido professor de história(local onde praticamente todo o filme se passa), e começam uma conversa animada. Depois de alguns minutos, levemente alto e bastante emocionado pelo gesto de todos, John(o historiador) confessa que o motivo de estar abandonando o cargo que já ocupava a dez anos era que, por alguma razão inexplicável, ele não envelhecia, sendo que, por isso, a cada dez anos ele era obrigado a mudar de residência e estilo de vida para que as pessoas não notassem seu não envelhecimento. Ele também revela, que embora aparente ter no máximo 40 anos, possui, na verdade, 14.000.

Como o natural, todos encaram o comentário inicialmente como uma piada, mas ao perceberem a seriedade com que John fazia a afirmação e preocupados com a sanidade do mesmo, começam a tentar dissuadi-lo, usando, em parte, do conhecimento que cada um possuía em sua área. Nesse ponto, começa uma das discussões mais interessantes do filme, a possibilidade de, sem nenhum outro meio de prova e conhecimento além da fala, se chegar a uma real verdade, já que, embora com uma premissa absurda, John constrói um relato coerente e verossímil.
Não pretendo mais tecer considerações sobre o enredo, porque isso acarretaria, inevitavelmente, que eu desse spoleirs sobre o mesmo, o que levaria alguns(os mais chatos), a não verem o filme. O mesmo vale quanto ao, já mencionado, caráter polêmico do filme relacionado com a religião, se eu tecer qualquer comentário sobre o assunto, acabarei fazendo revelações sobre o enredo. 

No entanto, não posso deixar de pensar em quão interessantes são as discussões quanto à imortalidade e percepção do tempo presentes no filme. Porque, ao menos em minha humilde e desprezível opinião, todo mundo, algum dia, já pensou em como seria, ou já quis, ser imortal. Sendo que personagens do cinema como Connor Mac Leod(Highlander) e Vendal Savage(Marvel Comics), dentre muitos outros, mostram como a ideia de viver para sempre está presente no pensamento coletivo.  Entretanto, creio que tal ideia é normalmente muito romanceada, sendo que raramente pensamos que viver para sempre, comportaria um conceito que sequer conseguimos pensar, a eternidade. 

Nossa espécie, na melhor das expectativas, realmente na melhor delas, possui um período de vida próximo a 100 anos, sendo que qualquer ser humano normal, acharia tal período de tempo uma imensidade. No entanto, se pensarmos em algo como um calendário cósmico, onde todo o período de tempo já decorrido no universo até hoje ocupasse um ano imaginário, cada mês desse ano representaria aproximadamente 1 bilhão e duzentos e cinquenta mil anos, cada dia representaria aproximadamente 40 milhões de anos, sendo que cada segundo do mesmo ocuparia 500 anos do calendário. Partindo do pressuposto que  o fóssil de um ser humano mais antigo já encontrado tenha 200.000 de idade, ele possuiria, dentro do tempo que criamos, apenas 6 minutos desde seu aparecimento. Mais ainda, A Revolução da Agricultura, nosso primeiro passo para a sociedade que desenvolvemos hoje ocorreu a 12.000 anos atrás, isso equivaleria, no calendário cósmico apenas a 40 segundos antes da meia noite do ultimo dia do ano. Nossos sonhados cem anos, nessa expectativa, não passariam de um quinto de um segundo. Sendo que estamos falando apenas do passado. Especula-se que a morte térmica do universo, o fim de tudo, ocorrerá em alguns trilhões de anos, ou seja, milhares de anos cósmicos adiantes... e mesmo todo esse tempo não representaria a eternidade, já que essa se prolongaria até mesmo após a queda do próprio tempo. A eternidade, portanto, não é um conceito possível de ser pensado, já que, em essência, somos seres de constituição e até mesmo pensamento perecível. Todos somos limitados pela nossa mortalidade.
Além de não podermos sequer compreender períodos de tempo maiores do que uma centena de anos, e estou sendo otimista, não podemos sequer imaginar como seria viver tal período de tempo em meio a uma sociedade que não compartilhasse tal imortalidade. Como o personagem do filme, teríamos de viver migrando de tempos em tempos, para não sermos creditados como monstros, bruxos, ou até mesmo, na atualidade, como a descoberta científica do século, a ser partida e dissecada a fim de encontrar o tão afamado segredo do não-morrer. Pior, não poderíamos construir relações a longo prazo, porque como a própria palavra já diz, as relações não poderiam, por essência ter um prazo. Solidão maior não seria mais plausível.

Curioso seria pensar que, caso um dia tivéssemos um encontro com alguém tão velho como o personagem do filme, dificilmente poderíamos, apenas através de uma conversa, desmenti-lo. Na verdade, mais provável acreditássemos no mesmo depois de algumas horas de conversa. Talvez tirássemos uma conclusão curiosa, a de que viver 1.000 anos ou 100 anos, não faz tanta diferença, já que para nós, que estamos vivendo esse período, o tempo parecerá contínuo e descontínuo ao mesmo tempo. Nossa percepção de tempo, conforme já me referi, é falha. Não somos capazes de narrar fato a fato tudo o que fizemos desde nossa tenra infância, sendo que, na verdade, construímos um resumo, uma sinopse de nossas vidas através de nossas principais lembranças, um relato descontínuo e fragmentado. Possamos viver 10.000 anos ou 100 anos, sempre estaremos limitados a uma visão de tempo, uma visão de mundo, própria de seres que caçavam objetos de tamanho médio, em uma velocidade média, por um período de tempo médio, em uma savana.
...

Viagens a parte, esse filme é realmente incrível, e creio que praticamente obrigatório para quem aprecia a sétima arte e discussões filosóficas, ou simplesmente uma boa conversa.

Segue o trailer do filme aos interessados ou à improvável alma que chegou a esse ponto do texto.






Para quem se interessar, seguem dois interessantes videos que me deram a ideia para a construção desse texto.



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