quarta-feira, 28 de maio de 2014

GAMES: Broforce - NOW, I HAVE A MACHINE GUN! HO-HO-HO


Antes de qualquer coisa, tenho de confessar que não sou um gamer, digo, não tenho grande experiências com jogos(em Dark Souls nunca consegui sair nem de Anor Londo), sendo que essa coluna, games e jogos, em específico, promete não ser muito frequente. No entanto, o jogo que quero apresentar hoje, me impressionou não apenas por ser impagavelmente divertido(além de possuir uma versão gratuita, e por isso de fácil acesso para mim, pobre por essência), mas por me remeter aos filmes de minha infância. Na verdade, a um gênero muito específico de filmes, os filmes de ação dos anos 1980, ou como eu o chamo carinhosamente, os "filmes brucutu".

Segundo o dicionário informal, um site randômico que encontrei, brucutu é um termo usado para nomear alguém grosseiro, ríspido. No entanto, no uso corrente, também usamos essa palavra, ao menos em Minas, para como sinônimos de alguém forte, grande ou violento. Nessa ótica, atores como Arnold schwarzenegger, Sylvester Stallone, Wesley Snipes e até Bruce Willis, não podem ser nomeados de outra forma, ao menos nos papeis em que lhes deram o sucesso que têm. Todos tem como marca, ao menos nos filmes de ação, serem grandes, fortes e absolutamente trunculentos, agindo, por excelência, sozinhos, mesmo quando isso é uma insofismável burrice até ao corajoso mais temerário. Brucutu no cinema é, entaõ, sinônimo de "um exército de um só homem". Sendo que, em Broforce, um jogo indie desenvolvido pela Free Live Games, existe a remissão direta a isso, ou melhor, existe a remissão a todos os principais personagens Brucutus do cinema. Rambo, T -800(Terminator), Snake Plissken(Escape from New York), John MacLanne(Die Hard), etc. Nenhum herói dos anos 1980 está de fora, embora todos, por motivos de direitos autorais, tenham tido o seus nomes alterados(embora de modo ridiculamente engraçado, reduzindo-se à simples inclusão do termo "bro" ao nome).


O próprio ambiente do jogo, uma ilha paradisíaca convenientemente cheia de terroristas e bandidos, lembra, em muito, um filme de ação antigo. Fazendo com que, embora nesse jogo plataforma de 16-bits não exista praticamente nenhuma cutscene, você consiga bolar facilmente uma história fajuta para justificar todo o banho de sangue(muiiiiito sangue mesmo) e explosões sem sentido que você causa(assim como qualquer bom filme de ação).


Um outro traço muito interessante do jogo, é que você pode interagir praticamente com todo o ambiente, digo, você pode explodir as paredes(todas as paredes), usar  caixotes como barricadas, animais do ambiente e até mesmo NPC's como escudo contra balas, etc. Você praticamente pode fazer qualquer coisa que consiga pensar! Nesse sentido, o jogo tem o seu maior diferencial, já que no mercado, são raros os jogos, mesmo os de maior orçamento e produzidos por grandes grupos, em que você realmente tenha alguma interação real com o ambiente.

Recomendo esse jogo, portanto, para todos aqueles que, como eu, são saudosistas dos velhos filmes de ação. Quando os heróis eram brutos e feios, e quando mesmo o maniqueísmo típico do gênero, tinha ainda seu charme.

Aos interessados, abaixo tem o video de um canal no youtube(que também recomendo), mostrando alguns minutos do jogo:


Aqui vai o link do site onde se pode jogar gratuitamente a versão Alfa de Broforce(o jogo é bem leve, portanto, dá para jogar no navegador). 

E aqui, por fim, vai o vídeo que deu luz ao título tolo desse texto...

terça-feira, 27 de maio de 2014

QUE FILME DE MERDA! - Elysium


Confesso que até o momento, apenas fiz críticas positivas a todos os filmes que já comentei aqui. No entanto, como todo o fã da sétima arte, nem sempre aprecio as obras que assisto. Dessa forma, inauguro então, uma sessão no blog devotada, APENAS, para críticas negativas. Aviso, antes de tudo, que ninguém é obrigado a concordar ou não com a minha opinião sobre o filme. Lembremos que a minha opinião, é apenas a minha maldita, amarga e insignificante opinião. E ninguém, absolutamente nenhum ser vivo, desmorto ou extra-planar imortal, têm a obrigação de concordar ou sequer gostar dela. Tendo fim esse necessário prolegômeno, vamos, então, ao dito filme de merda.



Elysium, de direção de Neill Blomkamp(o mesmo que já havia dirigido o genial Distrito 9), estreou nos cinemas de todo o mundo no final de 2013, e pode ser descrito como um mediano sci-fi, ou uma distopia futurística de boas intenções mas fraco desenvolvimento. O enrendo, em síntese, se passa em um futuro não muito distante, 2159, onde todos os temores Malthusianos se cumpriram. O planeta vive em uma situação de superpopulação(o mundo virou um gigantesco ônibus lotado, um inferno em outras palavras) e extrema degradação ambiental(por todo o filme me perguntei como se alimentava tanta gente em um mundo semimorto - vide soylent green). Diante desse quadro, as classes mais abastadas, como de praxe, fugiram do buraco de m* em que o mundo se tornou, enclausurando-se em uma colossal estação espacial chamada Elysium(claro, sem deixar de oprimir as classes mais pobres, usando, para isso, de um exército gigantesco de robôs). Quase não é necessário mencionar, que ao contrário da terra, a estação espacial oferecia uma vida luxuosa aos seus novos olimpianos. Sendo que, inclusive, os mesmos gozavam de uma quase imortalidade graças às miraculosas máquinas de Elysium.


 Tendo traçado o contexto, vamos ao enredo! O protagonista, Max da Costa(Matt Damon), ex-ladrão de carros e operário em uma linha de construção de robôs de segurança, sofre um acidente no trabalho(causado pelo seu chefe filho da p*), e se vê às portas de uma dolorosa e lenta morte iminente. Frente a isso, ele retorna à sua vida criminosa, com o fim de tentar chegar à Elysium e, de posse de uma das tais máquinas de cura as quais me referi, fugir da cruciante morte que se aproximava.
Bom, embora de início o plot do enredo que acabei de apresentar possa parecer bastante atraente para um leitor desavisado, ele sofre de um defeito imperdoável. Ele não segue as premissas que ele mesmo construiu, digo, ele não tem coragem de levar até às ultimas consequências a sua própria ideia. Explico melhor, embora não possa deixar de "spoilar" para fazê-lo(por isso quem não quiser levar um spoiler pare de ler o texto aqui). 

Desde os primeiros minutos podemos ver a insatisfação que o protagonista Max, tem quanto ao fato de ter nascido e crescido na terra, um lugar feio e sujo, e não em Elysium, que é uma espécie de paraíso terreno. Podemos ver também, que há um sentimento de insatisfação geral no mesmo sentido, sendo que, semelhantemente aos imigrantes do antigo terceiro mundo que tentam migrar ilegalmente para os países desenvolvidos, terráqueos também tentam chegar, muitas vezes morrendo com o fracasso, à paradisíaca estação espacial. Nesse ponto, e levando em consideração que o diretor também havia trabalhado em Distrito 9(um filme de conteúdo político absolutamente incrível), podia-se deduzir facilmente que haveria uma luta de classes no filme, ou melhor, uma espécie de nova revolução francesa, que culminaria na destruição de todo o establishment anterior. 
O filme trata da questão racial e o Apartheid na África do Sul usando como fantasia, uma aparente migração Alien para a Terra.


No entanto, mesmo quando Max consegue todo o controle sobre a estação, o máximo que ele se permite é enviar, as afamadas máquinas de cura para a terra, em um típico exemplo de assistencialismo oportunista. Oportunista, não porque traria alguma vantagem a ele, mas porque, embora realmente seja um ato aparentemente bonito nos primeiros 30 ss, se você pensar um pouco no assunto, verá que o que ele fez absolutamente nada, não mudou absolutamente nada! O que era para trazer a redenção do personagem e a mudança(para melhor) de toda a ordem social, apenas mostrou que a dura realidade que todos viviam, não devia mudar, não podia mudar. Desse modo, vemos que toda a exploração e sofrimento social que existe no filme se afirma e mantêm, fazendo com que a moral da história seja: as coisas são como devem ser
É tão legal ser pobre, não ter comida direito, não ter trabalho, ou quando conseguir trabalho, trabalhar como um escravo. Na verdade, é tão bom ser escravo de alguém, né? A unica coisa que incomoda é não ter remédios e medicamentos, né? 
Fora meu desapontamento quanto ao tratamento das questões sociais do filme, e de seu final de MERDA por consequência, não tenho grandes reclamações. Na verdade, gostei da "armadura" que deram ao protagonista. Muita gente reclamou na época, chamando a coisa toda de "cabides", mas uma exoesqueleto implantado cirurgicamente no paciente, e ligado ao seu cérebro, faz muito mais sentido como um intensificador de força física, do que um simples traje, que você coloca e tira quando quer. Gostei também do fato de que, na grande favela que o mundo inteiro se tornou, houvesse mais de uma linguagem falada, na verdade, uma mix de todas as que conhecemos, achei a ideia ótima. Só não gostei dos vilões, que achei planos e sem grande carisma. Tá, você pode ser mau as vezes... mas não o tempo inteiro!!! Sinceramente, acho muito pobre as representações de vilões absolutamente maus e odiáveis. Creio que sempre devemos nos identificar com eles, amá-los até.
Olha o Wagner com os "cabides" supertecnológicos!!!
Não vou, como de costume, encerrar o texto recomendando o filme, até porque o nome da sessão é "QUE FILME DE MERDA", então já dá para entender que realmente não acho o filme "recomendável" para ninguém. Mas, em desencargo de consciência, deixo o link do trailer, para o caso de um eventual leitor, quiser passá-lo a um desafeto, para que esse possa sofrer assistindo a essa "coisa".


domingo, 25 de maio de 2014

DICA CINEMATOGRÁFICA: Dr. Fantástico - I AM BECOME DEATH, THE DESTROYER OF WORLDS

Now I am become death, the destroyer of worlds.
J. R. Oppenheimer

Dr. Strangerlove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, não é apenas um dos filmes de maior título já criados, como é também uma das melhores e mais inquietantes obras, ao menos na minha humilde opinião de merda, que Kubrick já filmou. O filme de 1965, é uma comédia do mais delicioso e ácido humor negro que se possa pensar, e narra, em síntese, uma situação imaginária, onde um general, em meio a um considerável ataque paranóico(ele simplesmente acredita que os russos o envenenaram com o fim de torná-lo impotente), decide, sozinho, iniciar um ataque nuclear de larga escala contra a União soviética. No entanto, o que realmente torna a situação crítica, é que embora cientes que o ataque não é nada mais do que o gesto de um louco, os soviéticos não podem evitar o apocalipse nuclear iminente, já que pouco antes, haviam construído uma máquina, the Doonsday Device, que simplesmente extinguiria toda a vida na terra, caso fosse ativada por um ataque contra a URSS.   


Embora o plot de um holocausto nuclear iminente não possa parecer muito próprio a uma comédia, Kubrick consegue torná-lo absolutamente hilariante, ao mostrar políticos e generais, os senhores daquele tempo, em sua forma mais caricatural de paranóia e loucura. A morte, os destruidores de mundos, como Oppenheimer disse uma vez, são mostrados no filme como crianças em um gigantesco playground, que brigam e se metem em tolas discussões, absolutamente esquecidos, ou melhor, ensandecidos, com seu próprio poder.


Kubrick mostra nesse filme, que o gênero humano é absolutamente caótico por essência, dado a demonstrações sem sentido de emoções e pensamentos tolos, que, no entanto, podem ter severas consequências, como o fim de toda a vida na terra, conforme mostrado no filme. Na verdade, dizer gênero humano seria incorreto, porque tempos tão sui generis quanto a Guerra Fria, criaram uma forma de humanidade particular. O homem atômico, sendo que seu melhor exemplo pode ser visto no Dr. Strangelove(Petter Sellers), que dá nome ao filme. O personagem, um ex-cientista nazista(ainda bastante devotado a seus antigos ideais), paraplégico e absolutamente maluco, mal consegue se controlar nas poucas(embora memoráveis) cenas em que aparece, sendo que a todo tempo ou  está explodindo em uma quase saudação nazista, ou tenta controlar sua mão direita(ela tenta matá-lo por duas vezes). No entanto, tal personagem, que representa o mais absoluto descontrole, mal podendo controlar seus próprios membros, é também um brilhante cientista atômico, sendo tido como o melhor nome na sua área. Pode-se ver nele, portanto, o melhor exemplo do homem nuclear, um ser que não tem o menor controle sobre si mesmo e seus instintos, e tem o poder de mundos em suas trêmulas mãos.


Também não posso deixar de citar a tensão que existe em todo o filme, ao redor do sexo. Parafraseando pobremente Freud, tudo tem a ver com sexo! Sendo que, no filme, realmente tudo tem haver com o assunto. O próprio fim do mundo, foi causado pela insatisfação de um sujeito quanto à própria sexualidade, como já referido anteriormente. Por todo o filme, de forma pontual, fica evidente a preocupação dos personagens quanto ao assunto, sendo que, mesmo diante do apocalipse iminente, todos os generais e políticos presentes na sala de guerra, ficaram absolutamente estasiados com a ideia de poder levar ao buker em que se esconderiam, várias mulheres para cada um deles(já que eles teriam de repovoar a terra, de toda a forma). Sendo bom lembrar, que as próprias bombas, possuem um formato fálico, sendo as mais acabadas manifestações do poder e libido masculina presentes no filme, sendo que essa, voltada primordialmente à violência, teria no cogumelo atômico, seu fim orgástico, o prazer então viria da morte da destruição.
Concluindo, recomendo esse filme para todos aqueles que quiserem assistir um filme de profunda crítica política e filosófica, mas sem perder o bom humor. Já que não se levar à sério, é um traço de genialidade...



quinta-feira, 15 de maio de 2014

DICA CINEMATOGRÁFICA: The Man from Earth - Who Wants To Live Forever?

The Man from Earth, é um filme norte americano, produzido em 2007 e com direção de Richard Schenkman e roteiro de Jerome Bixby. De baixo orçamento e com atores praticamente desconhecidos, esse filme, de início, poderia dar a impressão de estar fadado ao esquecimento, como tantos outros filmes, bons e ruins, que não vêem à luz do grande público. No entanto, contra qualquer expectativa, The Man from Earth é continuamente indicado em aulas de antropologia, filosofia, teologia e até direito, como uma ótima forma de discussão de temas distintos, mas absolutamente importantes, como a passagem e percepção do tempo, a imortalidade, a possibilidade da verdade em uma narrativa e, os temas mais controversos de todos, a religião e a possibilidade de um sentido para a existência.

Passando ao enredo, o filme começa com uma série de professores universitários de diferentes áreas, como biologia, história, filosofia, antropologia, psicologia, teologia e etc, que vão até a casa de um professor de história da universidade onde todos trabalham, se despedir do mesmo, já que ele, sem nenhum motivo aparente, resolveu largar a cátedra que ocupava na universidade e viajar para o exterior. Após algumas bebidas, todos se reúnem na sala de estar da casa do referido professor de história(local onde praticamente todo o filme se passa), e começam uma conversa animada. Depois de alguns minutos, levemente alto e bastante emocionado pelo gesto de todos, John(o historiador) confessa que o motivo de estar abandonando o cargo que já ocupava a dez anos era que, por alguma razão inexplicável, ele não envelhecia, sendo que, por isso, a cada dez anos ele era obrigado a mudar de residência e estilo de vida para que as pessoas não notassem seu não envelhecimento. Ele também revela, que embora aparente ter no máximo 40 anos, possui, na verdade, 14.000.

Como o natural, todos encaram o comentário inicialmente como uma piada, mas ao perceberem a seriedade com que John fazia a afirmação e preocupados com a sanidade do mesmo, começam a tentar dissuadi-lo, usando, em parte, do conhecimento que cada um possuía em sua área. Nesse ponto, começa uma das discussões mais interessantes do filme, a possibilidade de, sem nenhum outro meio de prova e conhecimento além da fala, se chegar a uma real verdade, já que, embora com uma premissa absurda, John constrói um relato coerente e verossímil.
Não pretendo mais tecer considerações sobre o enredo, porque isso acarretaria, inevitavelmente, que eu desse spoleirs sobre o mesmo, o que levaria alguns(os mais chatos), a não verem o filme. O mesmo vale quanto ao, já mencionado, caráter polêmico do filme relacionado com a religião, se eu tecer qualquer comentário sobre o assunto, acabarei fazendo revelações sobre o enredo. 

No entanto, não posso deixar de pensar em quão interessantes são as discussões quanto à imortalidade e percepção do tempo presentes no filme. Porque, ao menos em minha humilde e desprezível opinião, todo mundo, algum dia, já pensou em como seria, ou já quis, ser imortal. Sendo que personagens do cinema como Connor Mac Leod(Highlander) e Vendal Savage(Marvel Comics), dentre muitos outros, mostram como a ideia de viver para sempre está presente no pensamento coletivo.  Entretanto, creio que tal ideia é normalmente muito romanceada, sendo que raramente pensamos que viver para sempre, comportaria um conceito que sequer conseguimos pensar, a eternidade. 

Nossa espécie, na melhor das expectativas, realmente na melhor delas, possui um período de vida próximo a 100 anos, sendo que qualquer ser humano normal, acharia tal período de tempo uma imensidade. No entanto, se pensarmos em algo como um calendário cósmico, onde todo o período de tempo já decorrido no universo até hoje ocupasse um ano imaginário, cada mês desse ano representaria aproximadamente 1 bilhão e duzentos e cinquenta mil anos, cada dia representaria aproximadamente 40 milhões de anos, sendo que cada segundo do mesmo ocuparia 500 anos do calendário. Partindo do pressuposto que  o fóssil de um ser humano mais antigo já encontrado tenha 200.000 de idade, ele possuiria, dentro do tempo que criamos, apenas 6 minutos desde seu aparecimento. Mais ainda, A Revolução da Agricultura, nosso primeiro passo para a sociedade que desenvolvemos hoje ocorreu a 12.000 anos atrás, isso equivaleria, no calendário cósmico apenas a 40 segundos antes da meia noite do ultimo dia do ano. Nossos sonhados cem anos, nessa expectativa, não passariam de um quinto de um segundo. Sendo que estamos falando apenas do passado. Especula-se que a morte térmica do universo, o fim de tudo, ocorrerá em alguns trilhões de anos, ou seja, milhares de anos cósmicos adiantes... e mesmo todo esse tempo não representaria a eternidade, já que essa se prolongaria até mesmo após a queda do próprio tempo. A eternidade, portanto, não é um conceito possível de ser pensado, já que, em essência, somos seres de constituição e até mesmo pensamento perecível. Todos somos limitados pela nossa mortalidade.
Além de não podermos sequer compreender períodos de tempo maiores do que uma centena de anos, e estou sendo otimista, não podemos sequer imaginar como seria viver tal período de tempo em meio a uma sociedade que não compartilhasse tal imortalidade. Como o personagem do filme, teríamos de viver migrando de tempos em tempos, para não sermos creditados como monstros, bruxos, ou até mesmo, na atualidade, como a descoberta científica do século, a ser partida e dissecada a fim de encontrar o tão afamado segredo do não-morrer. Pior, não poderíamos construir relações a longo prazo, porque como a própria palavra já diz, as relações não poderiam, por essência ter um prazo. Solidão maior não seria mais plausível.

Curioso seria pensar que, caso um dia tivéssemos um encontro com alguém tão velho como o personagem do filme, dificilmente poderíamos, apenas através de uma conversa, desmenti-lo. Na verdade, mais provável acreditássemos no mesmo depois de algumas horas de conversa. Talvez tirássemos uma conclusão curiosa, a de que viver 1.000 anos ou 100 anos, não faz tanta diferença, já que para nós, que estamos vivendo esse período, o tempo parecerá contínuo e descontínuo ao mesmo tempo. Nossa percepção de tempo, conforme já me referi, é falha. Não somos capazes de narrar fato a fato tudo o que fizemos desde nossa tenra infância, sendo que, na verdade, construímos um resumo, uma sinopse de nossas vidas através de nossas principais lembranças, um relato descontínuo e fragmentado. Possamos viver 10.000 anos ou 100 anos, sempre estaremos limitados a uma visão de tempo, uma visão de mundo, própria de seres que caçavam objetos de tamanho médio, em uma velocidade média, por um período de tempo médio, em uma savana.
...

Viagens a parte, esse filme é realmente incrível, e creio que praticamente obrigatório para quem aprecia a sétima arte e discussões filosóficas, ou simplesmente uma boa conversa.

Segue o trailer do filme aos interessados ou à improvável alma que chegou a esse ponto do texto.






Para quem se interessar, seguem dois interessantes videos que me deram a ideia para a construção desse texto.



DICA CINEMATOGRÁFICA: Black Snake Moan - Sexo,blues e redenção

Black Snake Moan, produzido pela Paramount em 2006, e com direção de Craig Brewer, pertence ao gênero daqueles filmes que, assim como Vampire's Kiss, embora sejam quase completamente desconhecidos do grande público(o que é uma lástima), possui imagens e cenas que viralizam na internet.

Quem nunca viu a seguinte imagem quando navegava randomicamente?
Essa, por sinal, é também uma das cenas mais malucas e assustadoras do filme...
Brincadeiras com ela (absolutamente compreensíveis por sinal) não faltam...
Esse Tumblr também é muito conhecido:
Confesso que descobri o filme desse modo, digo, por cenas e imagens viralizadas, mais especificamente, pela imagem do nosso querido Nick Fury, e eterno Jules Winfield, que já indiquei acima. Pesquisando posteriormente pelo filme, e vendo o poster, não posso negar que fui praticamente obrigado a assistir o filme, embora inicialmente não pelas razões corretas...
Realmente não foi pelas razões corretas...

Bom. Paro, então, de embrumar e passo ao que realmente interessa, ou seja, ao filme. O enredo, que se passa em uma pequena cidade do sul dos Estados Unidos, se centraliza em seus dois protagonistas, Lazarus e Rae. O primeiro, em uma visceral atuação de Samuel l Jackson, é um velho bluesman, e como todo bom bluesman, um homem de passado conturbado e sórdido. No entanto, à época do filme, ele parece já ter dominado seus demônios, embora o seu recente divórcio(é uma das primeiras cenas do filme) o tenha abalado além de qualquer medida. Já a segunda personagem, interpretada por Christina Rici, é uma jovem que sofre de ninfomania, sendo que por causa desse problema, dessa compulsão, ela é tratada como a "puta da cidade"(desculpem o linguajar). 


 Nesse ponto, é bom fazer um pequeno parêntesis. A ninfomania, ao contrário do que muitas pessoas possam pensar, não é uma característica agradável ou até mesmo algo desejável, ela é um sério transtorno psicológico, que geralmente causa grande sofrimento aos seus portadores.


Voltando à trama, esses dois personagens tão diferentes se encontram um dia, quando Rae, após ser quase estuprada pelo melhor amigo de seu noivo, é deixada por esse, inconsciente e ferida à margem da estrada. Lazarus a encontra e, contra todo o bom senso(lembremos que ele é negro, e mora no sul dos Estados Unidos), leva Rae para casa e cuida de seus ferimentos( depois desse ponto o enredo realmente fica interessante). Após indagar pela moça na cidade, e ciente da situação dela, ele resolve tentar ajudá-la. Mais do que isso, ele vê como uma missão divina curá-la de sua "doença". Para isso, ele, em uma atitude absolutamente questionável, acorrenta Rae a seu aquecedor. Nesse ponto, ocorre a reação esperada...                                                                 










Apesar do início absolutamente assustador(particularmente para Rae, que por toda a vida foi vítima de inúmeros abusos), com o tempo se constrói entre os dois uma forte amizade, baseada, sobretudo, no fato de ambos serem bastante semelhantes. Tanto Lazarus quanto Rae, possuem personalidades passionais, sendo sempre vítimas de seus próprios desejos(Lazarus é alcoólatra, sendo que fica claro em alguns pontos do filme, que quando jovem foi um homem de caráter violento). Curioso, é que a passionalidade presente em ambos, se adequa bem ao blues, ritmo que permeia toda a trama.
Na verdade, o próprio título da película, além de uma remissão à própria Rae, ou melhor, a sua corrente(que é na verdade um avatar de seu transtorno, digo, a ninfomania), também se refere a uma versão da homônima canção de Blind Lemon Jefferson, que é cantada, pasmem, por Samuel L Jackson(que teve de apreender a cantar e tocar guitarra para poder atuar nesse filme).

(...)
That voice in my head,
Every time I think it's gone,
It comes howling back.

Calls me when I'm ailing,
When I can't find my way home.
Lost in the pines
I calls it the Black Snake Moan.

Black snake all in my room
Black snake all in my room
Some pretty mamma
Better get this black snake soon

Black snake is evil
Black snake is all I see

Woke up this morning
Black snake moved in on me.




O Black Snake moan, ou em uma tosca tradução, o gemido da cobra negra, representa o desejo em sua forma mais violenta e brutal. É esse gênero de desejo que atormenta todos os personagens da trama e os põe em uma situação de sofrimento constante. Desejo que não poderia ser melhor representado senão por uma corrente. Uma corrente negra, como uma cobra, animal que é, ao menos em nossa cultura, o símbolo da queda. Pode ser ver então, como o blues, um gênero musical sempre marcado pela dor e perda, se adequa perfeitamente ao filme, melhor, como todos os elementos do enredo se encaixam de uma forma quase assustadora, para mostrar a saga de duas pessoas que tentam alcançar a sua redenção. Uma redenção que não é a simples e miraculosa dissolução de todos os pecados pessoais, mas a remissão pessoal das próprias faltas, mesmo quando não se é, tecnicamente, culpado pelas mesmas.

...
Elucubrações  a parte, recomendo sinceramente esse filme a todos que gostam de cinema. Segue, aos interessados na película, ou a improvável alma que chegou até esse ponto do texto, o trailer do filme.





segunda-feira, 12 de maio de 2014

FABLES - No more happily ever after

Quando vi recentemente a notícia de que a DC pretendia adaptar Fables para o cinema, não pude ficar mais feliz e ao mesmo tempo mais preocupado. Feliz, porque Fables é uma das melhores séries de HQ's que eu já tive o prazer de acompanhar, e vê-la na tela grande seria sempre um grande deleite. Preocupado, porque boa parte da história tem um conteúdo tão adulto e pesado, que seria demasiado difícil, senão impossível, adaptá-la ao cinema sem perverter ou simplificar demasiadamente a história(embora tenham conseguido a façanha de fazer um bom game com ela), sendo que temo que o resultado de tudo isso, seja mais ou menos como acredito que ocorrerá com a tão alardeada série Hellblazer.
Esse não é o Wolverine!


Mas cessadas minhas lamentações de boteco... vamos ao que realmente interessa, ou seja, vamos falar da revista!

A revista, publicada pelo selo da Vertigo, desde 2002, foi escrita por Bill Willingham e desenhada em sua maior parte por Mark Buckigham, nesse quesito,digo, quando ao desenho, foram inúmeros os colaboradores, embora nada tenha a reclamar do traço. Quanto à qualidade da trama, basta dizer que a revista foi premiada com vários Eisner(uma espécie de óscar para os quadrinhos).

O enredo, sem muitos spoilers, narra o cotidiano de um pequeno bairro do subúrbio de Nova York, que é habitado secretamente por uma comunidade de refugiados. No entanto, esses refugiados de uma desconhecida, mas brutal guerra, são, na verdade, os personagens de livros dos mais variados gêneros e cores. Havendo desde personagens da historietas infantis, como o lobo mau, a branca de neve e o pinóquio, até personagens de clássicos, como Robson Crusoé, Ebenezer Scrooge(um conto de natal), o Dr. Jekyll/Sr. Hyde, a fera de frankstein e outros tantos.

No entanto, muito além do enredo, uma das características que mais me agrada na história é a brincadeira que o autor faz com a genealogia de cada um dos personagens, lhes dando características e defeitos dos mais inusitados... 

Para os mais curiosos, alguns exemplos:

O príncipe encantado, arquétipo de homem ideal dos contos de fadas, e sempre presente em todas as histórias com princesas e finais felizes, é, na verdade, uma única pessoa. A propósito, o mesmo também é um grande bastardo(o sujeito é um cretino, um cretino legal, mas um cretino...), que simplesmente se casou e se divorciou(raramente sob boas condições) de cada uma das princesas dos contos de fadas. E que atualmente vive parasitando economicamente as suas novas conquistas amorosas...


A Fada Azul ao transformar Pinóquio em um garoto, esqueceu de mencionar, no feitiço, que ele deveria algum dia, ser alguma coisa mais do que um garoto...
Pobre garoto...

A Bela e a Fera também são outro exemplo de como um feitiço dos contos de fadas pode sair pela culatra. O amor de Bela não acabou com o feitiço que tornou fera uma enorme besta monstruosa, apenas o suspendeu. Se o casal tem ao menos uma briga, ou Bela simplesmente fica irritada...


Mas meus personagens preferidos na história são realmente o grande lobo mau(coloca grande nisso), que é o xerife da cidade das fábulas(que é o modo como chamam o lugar onde todas moram), e a branca de neve, que é a implacável subprefeita da cidade. Embora para saber o motivo de minha preferência, e o porque os elenquei juntos... só lendo a revista.