Sei que já é pauta fria, entretanto, não posso deixar de comentar a melhor notícia que recebi em semanas! Não, não ganhei na loteria, não descobri que herdei uma fortuna de um parente rico distante, tampouco sucederei um trono e viverei o resto da minha vida em luxúria...pensando bem, a notícia não era tão boa assim #tristeza #vidademerda. Anyway, foda-se, estou feliz! A Marvel anunciou os filmes que produzirá nos próximos anos. Sim! Exatamente isso que você ouviu amigo marvelete e incauto amigo "estou só de passagem", já sabemos todos os filmes da Marvel que sairão nos próximos anos. Todos! Todos! #AlegriaEndless Mas o melhor de tudo é que mais filmes de heróis da Marvel também quer dizer mais filmes de heróis de outras editoras. Por que vocês sabem, qualquer ideia que dê infindáveis montes de dinheiro é boa demais para não ser copiada...
Meu depósito pessoal de sandices sobre cinema, quadrinhos, música e até literatura.
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
DICA CINEMATOGRÁFICA: The Devils Carnival - Deus e o diabo na terra dos malabares
(...) O riso é a fraqueza, a corrupção, a sensaboria da nossa carne. É o folguedo para o camponês, a licença para o avinhado, mesmo a Igreja em sua sabedoria concedeu o momento de festa, do carnaval, da feira, desta poluição diurna que descarrega os humores e permite outros desejos e outras ambições...Mas o riso permanece coisa vil(...)
O Nome da Rosa. Eco, Umberto
O Nome da Rosa. Eco, Umberto
Creio que a maior parte das pessoas gosta de manter durante seu cotidiano uma certa segurança, um senso de previsibilidade. Filmes e séries são o melhor exemplo disso. Normalmente precisamos da opinião de um amigo, de um blogueiro de confiança(Moi) ou, em resumo, de um terceiro(Euzinho novamente) para podermos decidir se vamos ou não empreender nessas obras um pouco de nosso precioso e limitado tempo. Deixe-se claro aqui, obviamente, que encaro o tempo, o nosso tempo, como algo extremamente limitado. Infelizmente somos seres finitos e finitas são nossas ações e nossas possibilidades de interação, ou seja, finitos são os filmes, séries e até mesmo livros que podemos ter contato em nossas vidas. Dessa forma, fica evidente que toda vez que empreendemos tempo na leitura de um livro ruim ou de um filme medíocre, perdemos para sempre a possibilidade de assistirmos ou lermos algo realmente válido. No entanto, ao mesmo tempo que a segurança nos trás a previsibilidade, ela também limita nossas possibilidades de escolha, fazendo com que muitas vezes não vejamos um bom filme, apenas porque esse não é muito conhecido. Dessa forma, é necessário sempre um certo pioneirismo, sempre uma certa impavidez, para não ficarmos estagnados em um mesmo nicho artístico para sempre. E foi em um desses temerários arroubos que conheci o musical do qual vim falar hoje, The Devil's Carnival.
Já de início, confesso que comecei a assistir ao dito filme com expectativas muito baixas, na verdade, eu quase tinha a certeza que ele seria uma catástrofe(o que talvez explique o fato de eu ter gostado tanto dele no final). Só para se ter uma ideia, o diretor do filme, Darren Lynn Bousman, dirigiu também Jogos mortais 2, Jogos mortais 3 e Jogos mortais 4, ou seja, ele dirigiu todos os longas da franquia que eu não gosto! Mais ainda, ele foi o responsável, ao menos na minha simplória opinião, por destruir parte do charme do filme original para toda a posteridade! Ou seja, ele ferrou com meu filme(tudo bem, parei com o choro)!!! Também não deixo de notar que é bem visível que o filme foi feito com um orçamento meio apertado. Sério, a gente sempre repara nisso... particularmente em tempos de produções tão faraônicas quanto atualmente. No entanto, a despeito do diretor ou do dinheiro que foi gasto para produzir o longa, o que temos no fim é uma ideia excelente, um roteiro extremamente palatável, boas interpretações e uma trilha sonora(é um musical afinal de contas) absolutamente invejável, em resumo, temos um excelente, embora excêntrico, filme.
E quando falo excêntrico não estou exagerando nem um pouco. O enredo, em seu plot mais básico, mistura as fábulas de Esopo e a mítica cristã ao som de traquinagens e melodias circenses. Sim, céu e inferno são retratados aqui como um grande circo. Na verdade, apenas o inferno, porque não temos mais do que um mero vislumbre da terra dos justos. No entanto, o inferno, onde se passa toda a trama, esse sim é um autêntico circo, e não falo apenas no sentido metafórico. Os demônios são todos retratados no filme como artistas de um show itinerante, sendo que as torturas dadas aos pecadores se constroem ao redor das apresentações que esses artistas/demônios realizam. Mas o mais interessante, é que esses números protagonizados por pecadores e demônios não só se constroem a partir do "pecado capital" que levou o condenado à inglória vida do abismo, mas também são uma recriação de conhecidas fábulas. Fábulas essas, que exercem uma importância imensa na trama, já que os citados pecados não são nada mais do que a aplicação prática da pequena lição moral que existe ao fim de cada história criada por Esopo.
Mas imagino que estou sendo um pouco confuso, então darei um exemplo: O primeiro número a ser apresentado conta a história de Tamara, uma mulher cujo principal pecado foi sempre confiar demais nas pessoas, mesmo que essas fossem claramente não confiáveis(inclusive, ela foi morta por seu namorado bad boy). No inferno, seu tormento/número se constrói a partir do conto do sapo e do escorpião, história essa que tem como moral exatamente não confiar, não depositar afeto ou confiança em absolutamente qualquer um. Por obvio, sei que nesse exato momento alguns leitores devem estar se perguntando que diabos de história com sapos e escorpiões é essa. Então, de forma breve, lhes narro a fábula: Durante a época das chuvas, um pequeno riacho que cortava um bosque se transformou em um caudaloso rio. Um escorpião que morava na região pediu então ao sapo, um amigo seu, que lhe levasse à outra margem. No entanto, o sapo resistiu quanto à ideia, com medo de ser ferroado. Mas o escorpião era insistente, e acabou convencendo ao sapo de lhe levar ao outro lado do rio. Entretanto, antes que chegasse ao meio do riacho o escorpião picou o sapo, que disse: Por que você fez isso? Ambos vamos morrer agora! Sendo que foi respondido pelo escorpião: Fiz isso porque essa é a minha natureza.
Poderia ainda tecer mais comentários sobre as outras histórias que forjam a narrativa, no entanto, não quero dar spoilers. Apenas deixo aqui minha mais sincera recomendação ao filme. Como já disse, ele tem um bom roteiro, boas interpretações e uma memorável trilha sonora. A despeito de qualquer coisa, esse é realmente um filme que vale a pena ser assistido!
domingo, 26 de outubro de 2014
ALEATÓRIAS - O fim de uma era - Boardwalk Empire
Os eventos que ocorreram hoje(ontem), marcam o fim de uma era, o término de uma época dourada. Não, não estou falando das eleições presidenciais. Por que diabos todo mundo só fala nisso?! Boardwalk Empire acabou, assim como meu mundo! #TristezaEndless Mas, falando sério, sinto sinceramente pelo fim de uma boa série(resenha da mesma no link), embora entenda que o mesmo seja necessário. Em todas as suas cinco temporadas, a série sofreu uma visível perda em sua qualidade de enredo, tornando-se um pouco confusa e até mesmo desgastante até para o fã mais devotado(EU). No entanto, pessoalmente acho que a série ainda tinha fôlego para mais uma temporada ou duas, claro, isso antes que todos os personagens principais fossem sistematicamente mortos, cortando meu coração pedaço por pedaço. Anyway, acabou. As cadeiras foram postas em cima das mesas, as luzes começam a se apagar e a orquestra toca Balão Mágico(a música oficial para término de festas). Minha ultima lamentação, e essa deixo para a posteridade, foi não ter ouvido(e olhe que esperei até o instante final), o seguinte:
Hello, my name is Tommy Darmody. You Kill my father. Prepare to die.*
*Se você não pegou essa piada, é sinal que nunca assistiu A Princesa Prometida. Aqui vai a cena que gerou essa piada de merda.(link)
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
AMERICAN VAMPIRE - "Este não é o vampiro de sua irmãzinha"
"(...)
Cause all you people are vampires
And all your stories are stale
And though you pretend to stand by us
I know you're certain we'll fail
(...)"
Perhaps Vampires is a Bit Strong But... - Arctic Monkeys
Nenhum ser mítico possui presença tão recorrente na cultura pop quanto os vampiros. Essas adoráveis e perversas crianças da noite não só estão presentes(embora nas mais diversas versões) em praticamente todos os panteões mitológicos que já existiram, como atualmente também ganham um espaço cada vez maior nas artes, em particular, no cinema. Sim meus caros, os malditos sanguessugas estão dominando o mundo. Corram para as montanhas! Estoquem água benta e estacas de madeira! Encomendem suas almas ao criador(se vocês forem ateus como eu, fu*)! Mas voltando ao assunto, embora os sugadores de sangue estejam cada vez mais presentes, suas características, seus poderes e, em particular, suas fraquezas, estão se tornando cada vez mais diferentes de sua versão mais clássica. Tão diferentes que a cada dia se torna mais difícil ainda lhes identificar como vampiros. Dizendo de outra forma, o vampirismo atualmente traçado por sagas como Twilight e True Blood transformaram os sanguessugas, que até ali eram mortos vivos amaldiçoados à sede eterna, em galãs teen. Ser vampiro atualmente não é mais uma maldição, mas uma boa oportunidade para ser imortal, ter força e velocidade sobrenaturais e, talvez, emitir luz própria(assim como a fada sininho).
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Em um anúncio da revista vetado pelo pessoal da Vertigo, vinha escrito o seguinte: "Este não é o vampiro de sua irmãzinha". |
Mas voltando ao assunto, a revista é primorosa quanto ao seu enredo e narrativa. Na verdade, é tão bom que nem parece que o Stephen King ajudou a escrever(clique aqui para ouvir minhas risadas malígnas)! Toda a trama e histórias secundárias são absolutamente bem costuradas, bem enredadas umas às outras, de forma que quando surge a segunda protagonista da história, a fodástica Pearl Jones(essa mulher é mais bad ass que o Blade), a narrativa, mesmo que contada a partir de dois personagens em momentos históricos diferentes, não se torna nem um pouco confusa, sequer menos interessante. Também não posso fazer menos que elogiar o desenho e a arte da revista, que também são de fazer inveja a qualquer publicação de respeito. Ainda nesse ponto, uma das coisas que mais me chamou a atenção, foi sempre se retratar os diferentes tipos de vampiros com distintas deformações na mandíbula e no rosto. Um traço que contribuiu em muito para demonstrar à monstruosidade dos personagens e que remonta a filmes da década de 1980 e 1990, como Buffy The Vampire Slayer(1992), Angel(1999-2004) e The Lost Boys(1987). Eu sei que o mesmo também está sendo feito na recente série The Strain, produzida pelo Guilhermo Del Toro, mas confesso que também não considero muito como vampiros os monstros dessa série. Na minha opinião, eles são só uma espécie de zumbi com alergia à luz, só isso!
Sem mais delongas, sem mais enrolação, recomendo esse primoroso quadrinho a qualquer um que, como eu, goste de faroeste, vampiros, e uma larga dose de violência e sangue. No entanto, ao contrário do que já fiz algumas vezes, não coloco nenhuma restrição ao meu público de estômago mais fraco. A HQ está muito longe do gore, e boa parte da violência e sangue que aparece nela, é tão estilizada, tão cartunizada, que sinceramente creio poder não afastar até ao mais medroso leitor. Hasta Luego a todos! E não se esqueçam de armazenar, como já recomendei, alho, água benta e estacas. Não fraquejem! Mais dia ou menos dia os malditos sanguessugas sairão de suas tocas, sendo que como bons caçadores de vampiros temos sempre de estar preparados para o pior! #13BeijosNoCoração #45éNúmeroDeVampiro #EstejamProntos
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
QUE FILME MERDA! Alien vs Predador
Segundo a lógica mais comum, a soma de dois elementos positivos resultaria, inevitavelmente, em um elemento mais positivo ainda. Dizendo de outro modo, um mais um é sempre igual a dois. No entanto, a despeito de qualquer norma lógica ou lei natural, o cinema possui seus paradoxos, fazendo com que ocasionalmente, senão majoritariamente, um mais um não resulte em dois mas sim em zero, ou até mesmo em um número negativo que tenda ao infinito. Podemos ver um bom exemplo disso no filme Alien vs Predador de 2004. O citado filme possui o mérito, provavelmente seu único mérito, de ter conseguido arruinar ou ao menos jogar uma boa pá( ou um caminhão de grande tonelagem) de cal sobre duas franquias de clássicos da cultura pop.
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Por que então fazer um filme em que os dois lutam um contra o outro? Por que toda essa violência contra esses dois amigáveis assassinos por natureza? |
Claro, não estou dizendo que já nos vetustos anos 1990, quando eu assisti(na verdade, assisti bem depois já que na citada época eu ainda não tinha idade para sequer engatinhar) Predador II, a caçada continua, eu não tenha ficado entusiasmado com a cena final, onde aparecia o crânio de um Alien, dando a possibilidade de um futuro Crossover daqueles dois adoráveis monstros. Obviamente, naquela passada era eu ainda não podia prever o puro mal que sairia da junção da saga Alien, iniciada pelo emblemático Alien, o Oitavo passageiro, de 1979, com a saga Predador, que se iniciou com o filme O Predador, de 1987. Eu era mais puro, mais ingênuo e, particularmente, eu era muito mais conivente(até porque, se me lembro bem, eu tinha apenas 10 anos quando descobri o possível crossover) com qualquer merda que o cinema tentasse me empurrar garganta a baixo, de forma que pensei, candidamente, o quão legal seria ver na tela grande aquelas duas criaturas bad ass se enfrentando em uma luta até a morte. No entanto, não contava que as duas mais aterrorizantes criaturas que o universo ficcional já criou um dia, seriam vítimas de uma das feras mais temidas do cinema... os executivos do estúdio!
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Essa é a bendita cena, na verdade, close up, que instigou todo o crossover entre as franquias. |
Sim, você ouviu bem. A fera mais terrível de todo o cinema não é um monstro devorador de homens, sequer um ser sobrenatural que se alimenta dos sonhos ou da dor humana. Não! A fera mais terrível, o monstro mais hediondo, é provavelmente uma pluralidade de executivos( típicos white stupid men) que controlam os grandes estúdios de cinema. Esses homens, as vezes mulheres, são mais catastróficos a qualquer universo ficcional do que a explosão conjunta de todos os dispositivos do Juízo final já criados pelo cinema(um outro bom exemplo da veracidade dessa afirmação é Tropas estrelares 3, que só poderia ser descrito como: O horror! O horror!). Ao invés do Xenomorphis(o Alien), que explode o peito de sua vítima(matando-a no processo, obviamente) em um sinal inegável de misericórdia, esses monstros parasitam filmes, sagas, séries, sugando sua qualidade, e transformando essa em rios de dinheiro!
No entanto, creio que não posso culpar apenas essas vis criaturas pelo fracasso existencial do filme. A ideia de um crossover entre as duas franquias, sempre foi meio ruim se pensarmos bem, embora apenas a atriz Sigourney Weaver, a imortal Ten. Rippley, tenha tido a coragem de admitir isso em público. Nas duas sagas, tanto na predador quanto na Alien, o foco da trama não são os citados monstros, mas os personagens, normalmente humanos, que lhes fazem frente. Um filme focado não na angústia humana pela dor e medo infligidos pelas duas criaturas, mas apenas no combate corpo a corpo das mesmas, está fadado, essencialmente, a não ser nada mais do que uma mera e fútil exposição de efeitos especiais e cenas gore, por mais triste que me pareça reconhecer isso.
E já no quarto parágrafo, imagino que até meu leitor mais paciente esteja se perguntando a razão de eu até agora não haver tentando explicar o enredo do filme. Provavelmente, imaginar-se-á que eu me esqueci de falar do mesmo em meio ao meu entusiamo(já fiz isso antes). No entanto, isso não ocorreu nesse caso, já que tenho de confessar que o filme não possui enredo, ou pelo menos, nenhuma narrativa interessante ou decente o suficiente para gastar muitas palavras. Na verdade, sintetizarei a ideia principal do filme em apenas quatro frases curtas: Primeira, humanos idiotas vão até onde não deviam ir, e mexem com aquilo que não deveriam mexer. Segunda frase, aliens matam humanos e predadores. Terceira, predadores matam humanos e aliens. Quarta, cena pós crédito abre margem para sequência. Pronto, acabo de resumir o filme! Não há nada mais a se falar dele. Na verdade, melhor do que isso, vamos fingir, como pessoas adultas, que ele nunca aconteceu. Assim como sua sequência com o bizarro e inexplicável "predalien"(sério, ainda tento entender de onde saiu essa ideia horrível), e aquele filme, tão biologicamente razoável quanto o longa do "predalien", embora muito mais decepcionante, chamado Prometheus. Na verdade, façamos uma coisa melhor ainda, vamos concordar que somente houveram, e haverão por toda a eternidade, unicamente três filmes do Alien(Alien 4 é merda demais para estar junto aos outros), e apenas dois do Predador(o último filme, Predadores, é tão ruim que quase considerei Alien 4 bom).
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Predalien lutando contra predador. O horror! O horror! |
Tendo em vista que, portanto, convencionamos que Alien vs Predador nunca existiu na história do cinema, não me cabe aqui tecer mais considerações quanto ao mesmo. Posto a seguir um video, um trailer do filme que concordamos não existir, apenas para satisfação da curiosidade alheia. Entretanto, recomendo sinceramente, até por questões de higiene mental, que não se assista a esse filme. Melhor, se você, meu caro leitor, entrar em uma sala onde esteja se exibindo esse filme, sugiro fortemente que você entre em posição fetal e tampe os ouvidos até o longa terminar, assim você se poupa da terrível experiência de presenciar a morte de uma boa ideia, ou melhor, de uma cândida ilusão.
terça-feira, 7 de outubro de 2014
Dica Cinematográfica: Monster - How do you shoot the devil in the back? What if you miss?
"Há muito tempo atrás havia um monstro sem nome.
O monstro não suportava o fato de não ter um nome.
Então ele decidiu sair em uma jornada para poder encontrar um nome para si.
Mas, como o mundo era muito grande, ele se dividiu em dois e cada parte seguiu para um lado.(...)"
"Vi então sair do mar uma besta com dez chifres e sete cabeças. Sobre os chifres havia dez diademas e sobre as cabeças, nomes blasfematórios.(...) Uma das suas cabeças parecia estar ferida de morte, mas a chaga foi curada, E toda a terra maravilhada seguia a besta. Adoravam o dragão porque tinha dado poder à besta, e adoravam a besta, dizendo: "Quem é semelhante à besta, e quem pode lutar contra ela?""
Apocalipse, 13: 1,3-4
Uma questão que me intriga desde a minha mais tenra infância é a relação entre aquilo que denominamos "mal" e a estética. Tanto no cinema quanto na literatura, e até mesmo no discurso religioso e científico(As teorias criminológicas de Cesare Lombroso são o melhor exemplo), paulatinamente assistimos a uma confusão entre os dois conceitos. Na verdade, creio que mais do que uma confusão, com o passar dos séculos ambos os termos se fundiram(ao menos no imaginário coletivo), construindo uma estética do mal, ou até mais do que isso, forjando um molde de monstruosidade que mesmo hoje formata e limita nossa visão sobre o assunto. Os vilões dos filmes e dos livros, por exemplo, quase sempre se apresentam como pessoas com deformidades físicas evidentes ou de simples inadequação aos moldes da beleza de seu tempo. Apenas para citar alguns, temos nos contos de Conan Doyle o Prof. Moriaty(retratado como tendo um aspecto muito semelhante ao atarrancado esteriótipo de proletário da época), e na obra shakesperiana temos o corcunda e profundamente canalha, Rei Ricardo III. Obviamente, não posso deixar de citar vilões de obras mais contemporâneas, como Voldemort, o vilão de Harry Potter, que tanto no cinema quanto nos livros possuía uma repugnante face reptiliana, e o Presidente Snow de Jogos Vorazes, que exalava por todo o lado um cheiro adocicado, lembrando rosas e corpos em decomposição. Nem preciso ainda falar do cinema, onde os vilões da Disney com suas faces rudes e caricaturais são o exemplo vivo da existência de uma noção estética da vilania, ou dizendo melhor, de uma necessidade visual de contemplação do mal.
Creio que um dos únicos vilões que foge dessa regra é Dorian Gray, protagonista do obrigatório romance de Oscar Wilde. Ele, ao contrário de praticamente todos os demais vilões da literatura, é retratado na maior parte do livro como alguém exteriormente belo, sendo que sua monstruosidade é apenas interna, em outras palavras, ele possui uma deformidade de alma. Confesso, que obras que exploram essa tensão entre beleza e monstruosidade, me agradam muito mais do que as que apenas seguem a citada estética da maldade. Elas são muito mais verossímeis, muito mais próximas à nossa cinzenta realidade do que os caricaturescos personagens de contos de fadas. Porque em nosso mundo reais monstros, criaturas de tão deformada maldade que a mera contemplação já é capaz de petrificar seu observador, não existem, não é? Ou será que certos obscuros contos de fadas podem ser reais? E são a essas duas questões às quais o anime Monster, produzido entre 2004 e 2005 pela Madhouse, tenta nos responder. Na verdade, creio que, até mais do que isso, a obra se destina a ser um contraponto de toda à tendência da estética da maldade, digo, ela poderia ser descrita inicialmente como um estudo das deformações da alma, ou melhor, uma real estética da maldade, não voltada para o físico de seus personagens, mas para os seus escuros.
Mas creio que, como de costume, adianto-me na análise e esqueço o básico, esqueço-me do enredo. A história se centraliza em redor de Kenzou Temna, um talentoso neurocirurgião japonês, que trabalha em um renomado hospital alemão, em Dusseldorf. Na verdade, talentoso não é exatamente o termo mais correto para nomeá-lo, já que ele era simplesmente o melhor médico em todo o hospital, sendo que seus méritos logo atraíram a atenção do diretor da instituição em que trabalhava, fazendo com que esse o tornasse seu preferido, e até mesmo seu genro. Mesmo o menos arguto, mesmo o mais lerdo, poderia dizer que Temna estava com a vida ganha, ou na melhor das linguagens, que tinha amarrado definitivamente seu burrinho na sombra. No entanto, ele sofria de uma falha fatal, uma fraqueza de proporções trágicas, era um homem bom e integro e, frente à política do hospital de dar prioridade a certos pacientes mais pelo seu status econômico do que sua condição médica, ele optou pela coisa errada a se fazer, a coisa certa. Um dia, chamado para atender o caso de uma famosa personalidade política, ele se recusou para poder atender o caso de uma criança que havia sido baleada na cabeça, alegando que essa haveria chegado primeiro. Não preciso dizer que toda a boa ação possui uma reação, e ele caiu inevitavelmente em desgraça por isso, sendo relegando, a despeito de seu talento, às sombras. Entretanto, o diabo é mau mas jamais ingrato, e logo o diretor do hospital e várias outras pessoas que contribuíram para sua queda morreram misteriosamente, dando à Temna sua chance de voltar ao estrelato.
No entanto, como todo presente diabólico, a graça recebida por Temna teve um auto preço, sendo que esse foi além do fato do bom doutor passar a ser suspeito de todos os assassinatos citados, o mesmo também conhecer seu misterioso benfeitor. Uma boa ação sempre possui uma reação, que nem sempre é boa. O benfeitor de Temna, tratava-se da mesma criança que o mesmo salvou e que lhe levou à sua queda. Essa criança, já agora um adulto, não poderia ser facilmente classificada como má, sequer como cruel, já que não haveria medida para a quantidade de infelicidade e desgraça que sua existência promoveu. Não posso dizer muito sobre o personagem, já que inevitavelmente eu daria spoilers, mas posso dizer que mesmo o Joker criado pelo universo de Nolan, que para mim resume em boa parte o conceito de mal e selvageria, tremeria e se negaria a se encontrar com tal monstro. Sim, desde Keyser Soze(Os Suspeitos- 1995), não se encontra nas telas um chefe do crime organizado que tenha um império tão vasto e ao mesmo tempo tão cruel. E Temna, conhecendo o fato de que contribuiu para a continuidade da existência de tal abominação, passa a persegui-lo por todo o mundo, com o fim de apagar da existência seu erro de julgamento. No entanto, how do you shoot the devil in the back? What if you miss?
Concluindo, não posso fazer nada além de recomendar esse anime, que de tão bem feito, tão bem produzido e orquestrado, creio que não deveria ser chamado de anime(não que não existam animes bons, mas esse excede qualquer limite razoável). Creio que a ele deveria ser dado um nome diferente, devendo existir em uma categoria acima de qualquer outra obra do gênero para toda a posteridade, ele deveria ser imortalizado, endeusado pelos séculos sem fim, até que o próprio tempo colapsasse sobre si mesmo e apenas o nada e o silêncio reinassem. Mas, c'est la vie, e estou aqui, novamente fazendo tietagem pelos meus gostos perturbados. Mas realmente recomendo esse anime para todos aqueles que queiram realmente presenciar a algo sublime, que queiram passar com algo mais do que tédio por algumas horas de suas ordinárias existências.
Creio que um dos únicos vilões que foge dessa regra é Dorian Gray, protagonista do obrigatório romance de Oscar Wilde. Ele, ao contrário de praticamente todos os demais vilões da literatura, é retratado na maior parte do livro como alguém exteriormente belo, sendo que sua monstruosidade é apenas interna, em outras palavras, ele possui uma deformidade de alma. Confesso, que obras que exploram essa tensão entre beleza e monstruosidade, me agradam muito mais do que as que apenas seguem a citada estética da maldade. Elas são muito mais verossímeis, muito mais próximas à nossa cinzenta realidade do que os caricaturescos personagens de contos de fadas. Porque em nosso mundo reais monstros, criaturas de tão deformada maldade que a mera contemplação já é capaz de petrificar seu observador, não existem, não é? Ou será que certos obscuros contos de fadas podem ser reais? E são a essas duas questões às quais o anime Monster, produzido entre 2004 e 2005 pela Madhouse, tenta nos responder. Na verdade, creio que, até mais do que isso, a obra se destina a ser um contraponto de toda à tendência da estética da maldade, digo, ela poderia ser descrita inicialmente como um estudo das deformações da alma, ou melhor, uma real estética da maldade, não voltada para o físico de seus personagens, mas para os seus escuros.
Mas creio que, como de costume, adianto-me na análise e esqueço o básico, esqueço-me do enredo. A história se centraliza em redor de Kenzou Temna, um talentoso neurocirurgião japonês, que trabalha em um renomado hospital alemão, em Dusseldorf. Na verdade, talentoso não é exatamente o termo mais correto para nomeá-lo, já que ele era simplesmente o melhor médico em todo o hospital, sendo que seus méritos logo atraíram a atenção do diretor da instituição em que trabalhava, fazendo com que esse o tornasse seu preferido, e até mesmo seu genro. Mesmo o menos arguto, mesmo o mais lerdo, poderia dizer que Temna estava com a vida ganha, ou na melhor das linguagens, que tinha amarrado definitivamente seu burrinho na sombra. No entanto, ele sofria de uma falha fatal, uma fraqueza de proporções trágicas, era um homem bom e integro e, frente à política do hospital de dar prioridade a certos pacientes mais pelo seu status econômico do que sua condição médica, ele optou pela coisa errada a se fazer, a coisa certa. Um dia, chamado para atender o caso de uma famosa personalidade política, ele se recusou para poder atender o caso de uma criança que havia sido baleada na cabeça, alegando que essa haveria chegado primeiro. Não preciso dizer que toda a boa ação possui uma reação, e ele caiu inevitavelmente em desgraça por isso, sendo relegando, a despeito de seu talento, às sombras. Entretanto, o diabo é mau mas jamais ingrato, e logo o diretor do hospital e várias outras pessoas que contribuíram para sua queda morreram misteriosamente, dando à Temna sua chance de voltar ao estrelato.
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Vejam! O monstro dentro de mim está prestes a explodir! |
Concluindo, não posso fazer nada além de recomendar esse anime, que de tão bem feito, tão bem produzido e orquestrado, creio que não deveria ser chamado de anime(não que não existam animes bons, mas esse excede qualquer limite razoável). Creio que a ele deveria ser dado um nome diferente, devendo existir em uma categoria acima de qualquer outra obra do gênero para toda a posteridade, ele deveria ser imortalizado, endeusado pelos séculos sem fim, até que o próprio tempo colapsasse sobre si mesmo e apenas o nada e o silêncio reinassem. Mas, c'est la vie, e estou aqui, novamente fazendo tietagem pelos meus gostos perturbados. Mas realmente recomendo esse anime para todos aqueles que queiram realmente presenciar a algo sublime, que queiram passar com algo mais do que tédio por algumas horas de suas ordinárias existências.
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