See my chariot run to yor ships I'll drive you back to the sea
You came her for gold he wall will not hold
This day was promissed to me
The gods are my shield lightning and javelins fly
Soon many will fall we are storming the wall
Stones fall snow from the sky
Dovahkiin, Dovahkiin, naal ok zin los vahriin
Wah dein vokul mahfaeraak ahst vaal
Ahrk fin norok paal graan fod nust hon zindro zaan
Confesso que não é a primeira vez que me defronto com uma obra vinda de Bollwood(um conhecido e carinhoso apelido da indústria cinematográfica indiana). Sendo meu primeiro contato com esse universo colorido e musical os filmes Shingham(2011) e Shinghan Returns(2014), dos quais não só guardo lembranças extremamente agradáveis(sério, os filmes são muito divertidos), como não canso de recomendá-los a qualquer um queira sair um pouco da monotonia sombria e desesperançada dos blockbusters ocidentais. No entanto, nada me prepararia para esse filme tão... singular. E quando digo singular, estou longe de dizer que o filme é ruim ou mesmo estranho. Não, longe disso até. Apenas confesso que em todos esses anos dessa indústria vital a qual chamo de vida, poucas vezes encontrei uma saga que realmente merecesse o título de épico(e aqui coloco a palavra no masculino, já que me refiro ao gênero narrativo).
Eu sei... eu sei... muitos de vocês, caros leitores imaginários, estão agora mesmo enumerando dezenas de sagas e filmes que se arrogam também como épicos, como Star Wars, O Senhor dos Anéis, Gladiador, Coração Valente e etc. No entanto, embora eu não desmereça esses filmes sempre achei que aos mesmo faltava um certo senso de grandiosidade... ou, melhor dizendo, que esses filmes e, particularmente, seus protagonistas tentavam ser verossímeis demais, demasiadamente humanos. Não me entendam mal, por favor. Obviamente, sei que a verossimilhança é algo importante na construção de uma narrativa e da empatia de seu público por ela. No entanto, a figura do herói, ou melhor, do herói épico é por essência inverossímil, fantástica. Pode-se ver isso, por exemplo, na obra de Homero, pai, senão fundador(ao menos no ocidente) do gênero épico. O protagonista da Odisseia, Ulisses(ou Odisseu) não é apenas um rei, mas descendente dos próprios deuses, sendo que o mesmo acontece ao principal protagonista da Ilíada, Aquiles, cuja própria mãe não é humana, mas uma ninfa do mar. O dois heróis lutam com criaturas fantásticas, flertam com divindades e são capazes de encerrar e iniciar guerras. Ambos estão, obviamente, fora daquilo que se esperaria de um homem comum, ambos caminham com os deuses. O protagonista de um épico, portanto, é por essência algo mais do que um mero humano, flertando continuamente com uma ascensão ao mundo dos mitos. Não tanto um ser de carne e osso, mas uma lenda viva, um mito.
E é justamente nesse ponto que Bahubali: O Início (2015) e Bahubali 2: A Conclusão (2017) acertam. Em toda a história fica claro que os protagonistas não pertencem ao banal e cotidiano mundo dos homens, mas são feitos de um metal muito mais raro, pertencendo essencialmente ao mundo das lendas. Ou seja, ao invés da direção do filme tentar criar mais verossimilhança para a história, fazendo uma narrativa pé no chão, optou-se por uma estilização na elaboração das cenas e narrativas, que não apenas deu um tom idílico à trama, mas reafirmou ainda mais o caráter épico, senão, lendário da mesma. Muito mais do que apenas a simples jornada do herói, temos também a impressão de estarmos acompanhando a construção de uma lenda, de um conto vindo de uma era há muito esquecida e agora pertencente apenas ao mundo dos mitos. Infelizmente, esse tipo de construção narrativa sempre foi bastante incomum no cinema ocidental. Tramas rocambolescas e cenários estilizados poucas vezes renderam boas plateias, sendo que mesmo após o relativo sucesso de 300, um dos poucos filmes que conseguiram se fazer por valer no gênero, poucas obras emplacaram o gênero. Em minha humilde e insignificante opinião, isso acontece em parte porque obras assim costumam ser extremamente caras e arriscadas do ponto de vista comercial. É difícil um público empatizar com um herói virtualmente perfeito ou com uma história muito exagerada. O cinema ocidental se tornou muito caro, e filmes se tornaram investimentos sob o alvitre de hordas de acionistas sem rosto. Obras monumentais como épicos, portanto, são dinossauros que por sua onerosidade extrema enfrentam sua extinção.
Ai, ai, ai... como de costume, me enrolo em extrapolações e esqueço de falar do dito filme. Vamos então ao mesmo!!! A saga de Bahubali se divide em dois filmes. Bahubali: O início e Bahubali 2: A Conclusão. O enredo se baseia naquele velho clichê de Hamlet(ou O Rei Leão, para os mais jovens). O trono do ancestral reino de Mashimati é usurpado pelo maligno irmão do rei anterior Bhallaladeva(sim, vocês não vão conseguir falar ou sequer lembrar do nome de nenhum personagem do filme, aceitem), cabendo ao filho do antigo rei reaver o trono de seu pai e salvar o reino dos desmandos de seu cruel tio. No entanto, embora a estrutura do filme seja bastante "padrão" para o gênero aventura/ação, existe uma particularidade muito interessante nesse filme. O protagonista do filme é tanto o filho do rei falecido, como o próprio rei(embora aqui através de flashbacks do passado). Dizendo de uma forma mais clara, tanto pai quanto filho são facetas de um mesmo personagem, dividindo, inclusive, mesmo o nome, Bahubali(obviamente, eles são interpretados pelo mesmo ator). A saga do herói é aqui, portanto, intergeracional.
Eu sei, eu sei... isso parece muito estranho, mas é necessário se lembrar que o filme se trata de uma obra indiana. Mais do que apenas uma barreira puramente linguística, aqui também se encontra uma previsível barreira cultural. Conceitos como reencarnação, karma e várias idiossincrasias da religiosidade indiana são apresentados aqui de forma crua, sem a enfadonha necessidade de exposição e simplificações para o público ocidental. A obra foi pensada primordialmente para o público indiano e nós, espectadores de além mar, nos vemos desbravando a cada instante do longa um território exótico e fantástico, mas cuja beleza somos incapazes de captar inteiramente. Sim, o filme não é para todos... tenho de admitir. A colorida musicalidade típica de Bollywood provavelmente escandalizará os fãs de ação/aventura mais puristas, fora que o caráter burlesco de várias das situações do filme as vezes podem quebrar a imersão do espectador. Mas... sinceramente? Creio que as vezes devemos sair de nossa zona de conforto e experimentarmos coisas novas e diferentes. Assim sendo, NÃO POSSO DEIXAR DE INDICAR bahubali a qualquer um que queira ter algumas horas divertidas e bastante interessantes.
P.S: Sim, esse filme está no catálogo da Netflix (tenho quaaaaase certeza).