sábado, 23 de abril de 2016

DICA CINEMATOGRÁFICA: JIN-ROH: A BRIGADA DO LOBO - O uivo do fascismo



"Então a garota deitou-se ao lado do lobo, sentindo o toque do pelo roçar seu corpo.
Como a senhora é peluda vovó - exclamou Chapeuzinho.
É para te esquentar, minha neta - respondeu o lobo.
Que unhas grandes a senhora tem!
São para me coçar, minha querida.
Que dentes grandes a senhora tem!
São para te comer.
E então, ao dizer essas palavras o lobo se atirou sobre a Chapeuzinho vermelho e a devorou."
Chapeuzinho Vermelho, Charles Perrault

"Houve um tempo em que os homens
Em suas tribos eram iguais
Veio a fome e então a guerra
Pra alimentá-los como animais
Não houve tempo em que o homem
Por sobre a terra viveu em paz
Desde sempre tudo é motivo
Pra jorrar sangue cada vez mais."
O Lobo, Pitty

Uma das coisas mais intrigantes sobre o conto da Chapeuzinho Vermelho é saber que o caçador só aparece nas versões mais contemporâneas da história. Na primeira versão, escrita não pelos irmãos Grimm(esses apenas se apropriariam do conto no Séc. XIX), mas por Charles Pearrault no distante Séc.XVII, a Chapeuzinho Vermelho é devorada pelo lobo ao final do conto. Sim amiguinho(a)s, não existem finais felizes nem nos contos infantis. Na verdade, as versões originais de nossas histórias de ninar tendem a ser tão sinistras, tão repletas de assassinatos, canibalismo, incestos e estupros, que fariam Game of Thrones parecer uma novela cômica das 20h. Mas voltando ao assunto, o conto original da Chapeuzinho Vermelho tem como objetivo alertar as gerações infantis sobre o perigo do estupro. Sim amiguinhos, a história que você ouviu quando era um pequeno catarrento(e que provavelmente já contou para a sua criação de novos catarrentinhos), sobre uma jovem menina que se perdia na floresta e quase foi devorada pelo lobo mau tratava-se de uma história metafórica sobre um estupro. Na verdade, não é grande surpresa. Histórias sempre foram uma ótima forma de transmissão de conhecimentos, condutas e tradições, sendo que a maior parte de nossos contos de infantis tem como fim ensinar nossas crianças(digo, catarrentinhos) sobre aquilo que é certo ou errado, ou sobre como os mesmos podem evitar situações perigosas. Entretanto, imagino que alguns de meus leitores já estejam se perguntando o que diabos isso tem haver com Jin - Roh, uma animação japonesa que se passa em uma realidade paralela onde o nazismo venceu a Segunda Guerra. Bom...o melhor caminho para se atingir um objetivo nem sempre é uma linha reta.
Uma curiosidade digna de nota... um dos principais motivos dos lobos figurarem tanto como vilões em vários contos infantis, é que séculos atrás os mesmos eram uma grande ameaça para pequenas comunidades e vilarejos.
Tal fato, acabou fazendo com que os mesmos fossem temidos e associados à toda espécie de vilania. Ao mesmo tempo, esse temor mítico influenciou uma caça desenfreada contra os mesmos, o que causou sua extinção em boa parte da Europa. 
Jin Roh: The Brigade of the Wolf, dirigido por Hiroyuki Okiura e lançado em 1999, trata-se de um drama sobre um soldado de uma unidade paramilitar fascista que se apaixona por uma integrante de um grupo terrorista. Entretanto, o filme não se limita apenas à simplicidade de seu plot, também fazendo uma atualização politizada do conto de Charles Pearrault. Agora, o lobo não é mais uma simples fera famita, tampouco um maníaco sexual, mas um sistema político desumanizador.
Kann man Herzen brechen
Können Herzen sprechen
Kann man Herzen quälen
Kann man Herzen stehlen
Fascismo, segundo a Wikipédia, é uma forma de radicalismo político autoritário nacionalista que surgiu na Europa na início do Séc. XX. Algumas de suas características mais marcantes seriam a veneração do estado, a devoção a um líder forte e carismático, e uma ênfase ao emultranacionalismo, ao etnocentrismo e ao militarismo. Obviamente, sei que essa é uma conceituação um tanto vaga e imprecisa, mas tendo em conta que apenas quero situar alguns de meus leitores mais jovens ou desinformados, e que não quero ser apedrejado ou linchado em praça pública, ela é perfeitamente apropriada. Entretanto, sei que nesse exato momento alguns de meus leitores estarão pensando que embora a ligação do facismo com a história de Jin Roh seja direta, a ligação desse com a Chapeuzinho Vermelho é no mínimo vaga, senão absurda. Contudo, citando Hobbes, "o homem é o lobo do homem", e que melhor exemplificação dessa frase senão o fascismo, um regime dedicado à violação e agressão de inimigos externos, internos e de seus próprios cidadãos. Em resumo, um reino de lobos. Sendo que nessa nação lupina, que história poderia ser mais cruel e apropriada do que o conto de Pearrault?

O homem é o lobo do homem, o lobo
O homem é o lobo do homem, o lobo
Tendo isso em conta, pode-se dizer que o filme se trata, na verdade, de um romance entre a chapeuzinho vermelho e o lobo mau. Todavia, ao contrário da história de ninar moderna e mesmo de sua brutal versão original, não existem finais felizes para protagonistas ou antagonistas. No cinzento universo dos lobos bípedes, não existe espaço para compaixão ou amor, apenas para uma eterna fome de agressão e morte.


Recomento Jin Roh: A Brigada do Lobo, portanto, a todos aqueles que gostarem de um bom drama vestido com uma profunda crítica política. No entanto, faço uma ressalva para aqueles que tiverem estômago fraco, já que o filme possui uma violência gráfica muita alta(embora ache que vocês já perceberam isso...).



Aleatório... aproveitando o espaço e apenas pelo frenesi nerd, apresento aqui minha versão favorita da Chapeuzinho Vermelho(vai ter uma resenha da obra no blog depois, eu espero). - LINK

quinta-feira, 21 de abril de 2016

DICA CINEMATOGRÁFICA: HARDCORE HENRY - O melhor videogame que já assisti no cinema...


"Rocco: Fuckin' - What the fuckin'. Fuck. Who the fuck fucked this fucking... How did you two fucking fucks..."

"Tonight I'm gonna have myself a real good time
I feel alive and the world is turning inside out Yeah!
I'm floating around in ecstasy
So don't stome me now don't stop me
'Cause I'm having a good time having a good time"


Confesso que a primeira vez que ouvi falar desse filme foi durante uma de minhas inúmeras noites insones, anos atrás. Ao que me lembro, era um final de semana monótono e como bom misantropo nerd e antissocial que sou(sim, eu odeio gente e sim, eu provavelmente te odeio, apenas sou educado o suficiente para não jogar isso na sua cara), eu estava fazendo minha semanal maratona de filmes e séries regada à quantidades temerárias de cafeína (porque dormir é para os fracos). Nesse ponto, meu amigo hipster(sim Sr. B, você é um fucking Hipster!!! Shame on you!!!) me apresentou um video da produção desse filme(esse video aqui). Obviamente fiquei entusiasmado, na verdade, entusiasmo é uma palavra demasiadamente curta e simples para descrever o estado de delirante histeria que fiquei ao ver o video. JESUS FUCKING CHRIST!!! Aquilo era o futuro! Um filme onde você podia realmente se sentir o protagonista bad ass... claro, se eu fosse branco, tivesse o mínimo de preparo físico e conhecimento bélico eu me identificaria mais ainda. Convenhamos, eu jamais cumprirei nenhum desses requisitos, então por mim já estava ótimo! Voltando ao assunto, vi que o filme ainda estava em produção e que o video, inclusive, tinha como função arrecadar dinheiro justamente para o filme. Obviamente, tive um prematuro fim de minha crush cinematográfica. Não ia acontecer, não era para acontecer. Mas aconteceu, e FUCKING CHRIST foi ótimo!!!

Sério, essa foi uma das melhores sequências de ação que vi nos ultimos anos. À excessão dessa...
Nesse minuto você pensa: "o diretor desse filme jogou CS demais..."

Houveram várias explosões, centenas de headshots, um belíssimo gore e um humor negro que me fez chorar de rir(mas tenho um senso de humor preocupantemente perverso). Pelo chifre do unicórnio dourado, foi lindo... mas sim, meu caro leitor entediado, sei que estou exagerando no meu faniquito, mas preciso expressar de algum jeito o AWESOME do que vi. Mas, finalmente, me recomponho...minto, FUCKING AWESOME MOVIE EVER!!! Falando sério, Hardcore Henry, ou como ficou conhecido no Brasil, Hardcore: Missão Extrema, é uma produção russa/americana de 2016. Curiosamente ele é o primeiro filme de ação produzido inteira e exclusivamente em primeira pessoa, e nem preciso dizer que teve grande inspiração em games first person shooter como C.S(Counter Strike), Doom e Call of Duty. Na verdade, essa foi exatamente uma das maiores razões do hype do filme, já que ele representaria o que de mais próximo o cinema poderia chegar dos games. Sim, meu leitor gamer compulsivo, você ouviu bem. Esse filme é muito parecido com um videogame. Na verdade, a impressão que tive ao vê-lo foi de ver algum amigo jogando um game com bons gráficos e uma história muito divertida.
"Esse é o ponto onde eu compro e upo minhas armas? Foda-se se a metralhadora é amis potente, me dá a escopeta!!!" Pensamento gamer 
Falando em história, esse é um ponto meio complicado no filme. Inicialmente o enredo do filme parece muito simples, na verdade, ele é extremamente clichê de início. O herói, um androide, salva a mocinha indefesa do maléfico vilão, um telepata albino bad ass mas com um plano de dominação mundial merda, a mesma ideia que permeia desde Tristão e Isolda até Super Mário, em resumo, o suprassumo do clichê. Óbvio, que apresentado aqui de forma um tanto quanto canhestra, mas compreensível dado o fato de que o filme se passa inteiramente pelos olhos do protagonista. Entretanto, com o desenvolver da trama o enredo fica assustadoramente mais profundo(obviamente, dentro das limitações de um filme B) e alguns personagens até conseguem um bom desenvolvimento.

Mas quem se importa com enredo e desenvolvimento de personagem?!?! Ser bad ass é o suficiente, não? Não? NÃO?!

Não posso me escusar de dizer que o filme tem suas falhas e limitações. Essas que, inclusive, tornam o filme inadequado para o grande público. Além do grau extremo de violência e nudez(imagino que filme tenha, no mínimo, censura 18 anos), o fato de ser filmado em primeira pessoa e do personagem correr, escalar, pular de prédios, helicópteros, tanques de guerra, além de coisas que apenas a imaginação de um louco pode conceber, tornam a imagem projetada na tela um pouco desorientadora. Não me entendam mal, não estou dizendo que a câmera mexe muito, estou dizendo que a câmera mexe o tempo todo!!! Quando o protagonista do filme corre durante algumas sequências, confesso que fiquei quase enjoado e tonto(não pelo tremor da câmera, mas porque realmente me senti correndo). Entretanto, tendo em conta que se trata de um filme experimental essas falhas são perdoáveis. Na verdade, para aqueles que são viciados em games ou que gostam de filmes como Adrenalina(que eu vergonhosamente assumo que gosto), esse filme será provavelmente a melhor coisa que foi lançada em décadas!!! Entretanto, caso você(VOCÊ MESMO) tenha um certo problema com sangue, não goste muito de filmes de ação ou simplesmente tenha resistência à filmes B... eu não recomendaria ver esse filme. Sério mesmo, você vai odiar.