segunda-feira, 23 de março de 2015

DICA CINEMATOGRÁFICA: Better Call Saul - Eu adoro esse cara, mas jamais(JAMAIS) quero ser ele(please god).


Jesse Pinkman explicando a necessidade de assistência jurídica "especializada" para Walt.


Confesso que pensei em vários jeitos de começar este comentário sobre a recente série do canal AMC, Better Call Saul. Pensei em citar o fato de que ela não é apenas um spin-off de uma das melhores séries que algum dia já vi(Breaking Bad), mas também que ela é sobre o melhor personagem de toda série (e não estou exagerando quando digo isso). Também pensei em iniciar esse texto recontando algum caso ou citação interessante do personagem. Mas não, pensando bem, a melhor forma de abrir esse pequeno momento de insanidade é contar como vim a saber da estreia da série. Não, não foi através de um comercial ou até mesmo de alguma aleatória fonte de notícias nerd ou geek. Foi através de um amigo meu, particularmente avesso à assistir séries ou coisas do gênero. Um colega de profissão(ou mais ou menos isso, já que ainda não passei na OAB), para ser mais exato. Quando me indicou a série, o mesmo o fez bastante aterrado, dizendo que o protagonista da série encarnava a pior perspectiva profissional para qualquer advogado ou jurista recém formado. Confesso que achei exagero(eu adorava esse personagem em Breaking Bad), sendo que assisti sem demora ao episódio piloto da série. Demorou horas para eu me recuperar do impacto(assistir ao Anticristo do Lars foi menos traumático). Sim, Saul Goodman é ainda um dos meus personagens de seriado preferidos. Mas god, ALL GODs, please, jamais me deixem me transformar em algo parecido com ele!!!
Embora eu realmente não queira ser como ele, adoraria alguns cartões como esses.
E agora fica evidente a razão pela qual a OAB proíbe que os  seus advogados de fazer propaganda de seus serviços abertamente...


Antes de se tornar o respeitável, ou nem tão respeitável, advogado mostrado em Breaking Bad, Saul Goodman(ou melhor, James McGill, seu nome de nascença), poderia apenas ser descrito como um "merda". E não se enganem, ele não era um "merda" como eu ou você(mas se você for tão merda quanto ele, sinta-se envolvido pelo meu abraço imaginário de compaixão nesse exato momento), ele era o rei dos perdedores. Não só ele poderia ser descrito apenas como um sofrível advogado de porta de cadeia, mas também como alguém existencialmente "fudido". Seu carro era algo digno de pena, ele tinha como escritório uma saleta sombria e minúscula dentro de um salão de cabeleireiro (do qual o aluguel estava atrasado inclusive), ele havia sido chutado de seu antigo emprego em um bom escritório e a miséria parecia bater sorridente à sua porta. Como já disse, ele estava "existencialmente fudido", e era a representação viva daquele sórdido pesadelo que ocasionalmente acorda todo o advogado no meio de uma noite fria e não lhe permite voltar ao sono. 
Compassivos abraços imaginários para todos os "losers" do mundo.
Please God!!! No. No, noooooooo!
Mas saindo de minhas fobias profissionais e voltando à série, ela se propõe a explicar como a persona Saul Goodman, com seus espalhafatosos trejeitos e práticas absolutamente questionáveis, surgiu de James McGuill, um perdedor por essência. Ou melhor dizendo, como um advogado criminal se tornou um advogado criminoso, parafraseando Jesse Pinkman. Não posso deixar de dizer, que os produtores da série são os mesmos de Breaking Bad, sendo que só isso já é suficiente para atestar a qualidade da série que tanto em enredo, atuações e produção está longe de deixar a desejar da série a qual se originou. Embora, entretanto, assuma desde o início um tom menos sério que ela, algo mais condizente com o seu protagonista, que paira eternamente entre o ridículo e o sublime(embora quase sempre mais para o primeiro). 



Não posso me esquecer de dizer também, que a série é uma ótima forma de revisitar alguns excelentes personagens que foram criados em Breaking Bad. Embora nada relativo a Los Pollos Hermanos ou ao império criminoso de Gustavo Fring já tenha sido citado, alguns personagens da série original já foram introduzidos no novo roteiro, como Nacho Varga, Tuco Salamanca e o meu preferido, Mike Ehrmantraut. O ultimo, inclusive, parece que foi introduzido de forma indelével (e absolutamente memorável) na trama, algo que realmente me deixa satisfeito. Creio que os antigos fãs de Breaking Bad se lembrarão dele ainda como, simplesmente, o personagem mais bad ass de toda a série, perdendo nesse quesito talvez(talvez) apenas para Gustavo Fring, que imagino que também será brevemente introduzido no spin-off.

No mais, recomendo Better Call Saul a todos que queiram ver uma boa e descompromissada série de tv. Sendo que faço uma especial recomendação a colegas e amigos que cursem direito. Sim, tenho uma especial apreciação por espalhar o horror pelo coração dos mais incautos e traumatizar para sempre amiguinhos de faculdade. Mas falando sério, creio que é o público jurídico, acostumado com a lógica ilógica de nossas práticas profissionais, que mais gostará da série que, no fim, apenas fala de um hipotético colega de sina que olhou perto e por tempo demais para o abismo.